Urgências hospitalares: o novo normal

Não basta dizer-se que o Serviço Nacional de Saúde é universal: tem de o mostrar na prática todos os dias e isso significa não deixar ninguém sem assistência.

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O que começou por ser temporário e experimental tornou-se, ao fim de um ano, o novo normal. Está encontrada a reforma da saúde nas urgências hospitalares: nada mais, nada menos do que a rotatividade nos serviços de emergência, sejam eles de obstetrícia ou de pediatria.

As mudanças começaram no Natal de 2022 e, mais de um ano depois, mantendo-se as dificuldades em constituir equipas médicas completas, a direcção executiva no SNS não hesitou: como comunicou ao país no dia 1, a propósito das urgências de obstetrícia, a melhor solução é manter-se a rotatividade. Se havia dúvidas sobre a bondade de existir uma direcção executiva do SNS, como que duplicando o papel de ministro da Saúde, esta é uma delas: o ónus de tal decisão saiu das costas do titular da pasta e a responsabilidade passa para essa nova figura que é o director executivo.

Esta direcção executiva teve um parto difícil, mais de 13 meses até ter os seus estatutos aprovados, mas começa-se agora a ver os seus resultados.

Desde logo, assume que a carência de médicos de ginecologia/obstetrícia é algo que se verifica a nível internacional, “a que Portugal não é imune e que, de acordo com as previsões da Organização Mundial de Saúde, se irá manter a médio prazo”. O aviso fica dado, ou seja, estas limitações não serão ultrapassadas em breve e todos os utentes devem ter noção disso. Quanto a próximos passos, adianta ainda que a rotatividade em rede pode vir a traduzir-se noutros actos médicos, como consultas externas, intervenções cirúrgicas programadas, rastreios oncológicos ou medicina da reprodução.

Enquanto continua por resolver o problema das horas extras dos médicos ou as sucessivas escusas de responsabilidade de profissionais de saúde, a solução de rotatividade para as urgências aparece como única mudança estrutural no edifício da Saúde.

As principais mudanças têm lugar no Centro e Sul, uma vez que a administração regional do Norte começou a fazer a reorganização há vários anos, quando ainda não se assistia à carência de profissionais de saúde que existe hoje em dia —​ o que tornou a tarefa mais fácil.

Se com a reorganização anunciada no dia 1, e que se prevê que seja para durar durante muito tempo, não vier a haver nenhuma grávida sem assistência em caso agudo, nenhuma mulher a ser transferida de urgência em urgência por ambulâncias que não sabem qual o hospital que a pode receber, então, cumpriu o seu papel. Não basta dizer-se que o Serviço Nacional de Saúde é universal: tem de o mostrar na prática todos os dias e isso significa não deixar ninguém sem assistência.

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