Polícia de Moçambique pede desculpa por ter matado manifestantes a tiro

Comandante Bernardino Rafael lamentou os “vários incidentes” que resultaram em mortes nos protestos contra os resultados das eleições, reconhecendo “erros cometidos pelos agentes da polícia”.

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Bernardo Rafael falou na necessidade de "humanização" da Polícia da República de Moçambique LUSA/LUÍSA NHANTUMBO

A Polícia da República de Moçambique (PRM) reconheceu que os seus agentes mataram a tiro vários manifestantes durante os protestos convocados pela oposição para protestar contra a fraude nas eleições autárquicas de 11 de Outubro, em que a Frelimo, no poder desde a independência, voltou a ganhar com muitas irregularidades.

Bernardino Rafael, comandante da PR, pediu desculpa por “vários incidentes” em que os agentes da polícia mataram a tiro manifestantes. Até agora a polícia reconheceu a morte de três manifestantes, enquanto as organizações da sociedade civil falam em 12 mortos.

“Há sempre situações imprevisíveis que ninguém se prepara para acontecer. Então, nós tivemos incidentes aqui. É um incidente em que perdeu a vida um jovem nesta garantia de ordem e segurança”, começou por dizer Bernardino Rafael, citado nesta sexta-feira no Boletim das Eleições do Centro de Integridade Pública (CIP), organização da sociedade civil. Mas, depois foi mais longe, ao pedir desculpa não só “por esse incidente”, mas por “vários incidentes, porque foram incidentes do percurso da reposição da ordem e segurança pública e não previamente preparados para acontecer”.

Falando da necessidade de “humanização” da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, que falava à Rádio Moçambique em Chiúre, na província de Cabo Delgado, no extremo norte do país, justificou o pedido de desculpas por reconhecer que os “erros cometidos pelos agentes da polícia na aplicação da lei” impediram a PRM de prestar “o serviço como devia ser”.

“É normal para a nossa polícia moçambicana” cometer um erro, reconheceu Bernardino Rafael, apesar disso considerou ser uma obrigação moral “pedir desculpas a todas as famílias” que foram vítimas da actuação da polícia. Nomeadamente, em Chiúre, onde um jovem morreu a 26 de Outubro atingido por uma bala disparada por um agente.

“A polícia lamenta esta ocorrência e com muito respeito, amor à vida, carinho que temos com a família, nós, a Polícia da República de Moçambique, não temos vergonha de dizer que pedimos desculpa”, afirmou o comandante.

Além de Chiúre, a PRM confirmou a morte de um manifestante em Angoche, na província de Nampula, a 16 de Novembro, e de um vendedor de peixe em Marromeu, na província de Sofala, a 12 de Dezembro.

No entanto, uma investigação preliminar do CIP, que há anos acompanha processos eleitorais em Moçambique, fala em pelo menos mais nove mortos por balas disparadas pela polícia: seis na cidade de Nampula a 27 de Outubro e três em Nacala-Porto, a 26 e 27 de Outubro. Outros foram feridos a tiro e levados para os hospitais, não se sabendo se sobreviveram aos ferimentos.

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