John Galliano protagoniza novo documentário: da ascensão à queda de um ícone da moda

O designer britânico foi o pioneiro da cultura do cancelamento, diz o realizador escocês Kevin Macdonald, que assina High&Low: John Galliano. A estreia está marcada para 8 de Março.

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John Galliano num desfile da Dior, em 2009 BENOIT TESSIER/Reuters

John Galliano foi o primeiro britânico a dirigir uma casa de moda francesa e um dos maiores nomes da indústria durante décadas. Acabaria por cair em desgraça, acusado de anti-semitismo, em 2011. Voltou à moda com a Maison Margiela, mas nunca recuperou o esplendor de outrora. Agora, vai contar “tudo” na primeira pessoa no documentário High&Low: John Galliano, realizado pelo escocês Kevin Macdonald.

A produção chega aos cinemas a 8 de Março, com estreia nos Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido — em Portugal, ainda não há data prevista. Galliano promete que não há assuntos tabus e o documentário, que já estreou em festivais, fala não só sobre a polémica que o fez deixar a Dior, como sobre toda a sua vida, da toxicodependência à obsessão com a imagem, culpa da pressão da indústria da moda, acusa. “Não conseguia trabalhar a menos que tomasse Valium [medicamento ansiolítico]”, chegou a contar o criativo britânico, nascido em 1960 em Gibraltar, mas com vida feita em Londres.

Sobre os comentários anti-semitas de 2011, John Galliano dá sem hesitar a mão à palmatória: “Foi uma coisa nojenta, uma coisa estúpida que fiz. Foi só horrível.” Clarificar o incidente que levou o criador aos tribunais em Paris foi um dos motivos por que Kevin Macdonald quis fazer este documentário, explica o realizador à revista Vogue. “Vivemos numa época em que — e, para mim, o caso de John está na origem disto — as celebridades são apanhadas por comportamentos socialmente inaceitáveis e, de uma forma ou de outra, são canceladas.” Além disso interessava-lhe particularmente “o que vem depois” do tão falado cancelamento: “Há um mecanismo de perdão para isso na sociedade?”

A ideia, clarifica, não era implorar pelo perdão para Galliano, que “sabe que não será perdoado por todos”. O criador quer é “ser compreendido” e ter oportunidade de se explicar, usando a sua história como um alerta para os perigos da frenética indústria da moda. “No final, diz que a sua história não é realmente deprimente, porque saiu de tudo com uma vida renovada e um sentido renovado de vigor e criatividade”, reforça o realizador.

Além do designer que foi entrevistado durante seis dias, sem intervenção de quaisquer relações públicas, High&Low: John Galliano conta também com os testemunhos das supermodelos Naomi Campbell e Kate Moss; do dono da LVMH, Bernard Arnault; ou da actriz Charlize Theron.

Agora, à frente da direcção criativa da Maison Margiela (desde 2014), Galliano está sóbrio e deve-o também à queda de 2011. A 25 de Fevereiro desse ano, foi suspenso da Dior depois da queixa de um casal, que foi insultado pelo criador embriagado no bar La Perle, no Marais, um dos bairros mais conhecidos de Paris. “Sua cara suja de judia, devias estar morta” ou “Seu cabrão asiático, vou matar-te”, gritou o designer.

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Galliano em tribunal em 2011 GONZALO FUENTES/Reuters

Mais tarde, surge um vídeo onde profere comentários anti-semitas no mesmo bar, dizendo mesmo “Amo Hitler”. Não foi preciso mais: a Dior despediu-o e Galliano foi internado numa clínica de reabilitação de alcoolismo e toxicodependência. Em tribunal, em Setembro desse mesmo ano, foi considerado culpado de “insultos públicos” com base na etnia, religião e raça, com uma multa de seis mil euros.

Tenho de assumir a responsabilidade pelas circunstâncias em que me encontrei e por ter permitido que me vissem a comportar da pior maneira possível. Só me posso culpar a mim e sei que tenho de enfrentar os meus próprios fracassos, trabalhar arduamente para ganhar a compreensão e a compaixão das pessoas”, lamentou então em tribunal.

Polémicas à parte, Galliano continua a ser aclamado com um dos mais criativos da sua geração — abriu caminho a nomes como Alexander McQueen ou Phoebe Philo. É a ele que se atribui a recuperação da Dior do marasmo nos anos 1990. Algumas das suas criações mais icónicas são o "vestido-jornal" utilizado por Sarah Jessica Parker em O Sexo e a Cidade, ou o vestido estilo lingerie que desenhou para a princesa Diana, fã assumida da casa francesa, em 1996.

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