Ucrânia pondera mobilizar mais meio milhão de pessoas para a guerra com a Rússia

Presidente Volodymyr Zelensky diz que ainda não foi tomada uma decisão final e mostra-se confiante de que o apoio financeiro dos EUA e da União Europeia vai ser desbloqueado em breve.

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Zelensky durante a conferência de imprensa em Kiev EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Com o Exército da Ucrânia a debater-se com falta de soldados para continuar a enfrentar a invasão russa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou esta terça-feira que o seu Governo está a ponderar a mobilização de 450 a 500 mil pessoas para as Forças Armadas, embora não tenha sido ainda tomada uma decisão final.

O líder ucraniano disse, numa conferência de imprensa em Kiev, que os principais responsáveis militares e governamentais iriam discutir “esta questão muito sensível da mobilização” e que o Parlamento iria depois analisá-la.

“Eu disse que precisaria de mais argumentos para apoiar esta iniciativa. Porque, em primeiro lugar, é uma questão de pessoas, em segundo lugar, é uma questão de justiça, é uma questão de capacidade de defesa e é uma questão de finanças”, disse Zelensky, acrescentando que seria necessário um financiamento adicional de 500 mil milhões de grívnias (12,3 mil milhões de euros) para apoiar a mobilização, caso a decisão fosse tomada.

Numa conferência de imprensa, transmitida em directo na televisão, que serviu para o Presidente ucraniano fazer o balanço de 2023 e perspectivar o próximo ano, Zelensky anunciou ainda que o país vai, em 2024, produzir um milhão de drones para combater o invasor.

Numa altura em que o apoio dos aliados ao esforço de guerra da Ucrânia está a ser posto em causa, nos Estados Unidos - onde os republicanos têm travado o novo pacote de assistência - mas também na Europa, com o atraso na aprovação do novo fundo de 50 mil milhões, o Presidente ucraniano diz estar confiante de que os EUA não irão “trair” o seu país.

“Estamos a trabalhar arduamente nesta questão e estou certo de que os EUA não nos trairão e que o que acordámos será cumprido na íntegra”, afirmou Zelensky, vincando que a assistência financeira é fundamental para a defesa da Ucrânia após quase dois anos de guerra.

“Os nossos parceiros americanos devem saber que estamos à espera desta ajuda. Eles sabem em pormenor para que é necessária, como é que vai influenciar a situação”, acrescentou.

Quanto ao apoio da União Europeia, o líder ucraniano diz não ter dúvidas que o pacote de ajuda de 50 mil milhões de euros será aprovado em breve. Os líderes da UE disseram sim ao lançamento das negociações de adesão da Ucrânia ao bloco europeu, mas a Hungria bloqueou o pacote de ajuda financeira.

“Estou confiante de que já alcançámos tudo isto, agora é apenas uma questão de tempo”, disse Zelensky.

A Ucrânia espera colmatar o défice orçamental de 43 mil milhões de dólares no próximo ano com a ajuda externa, incluindo 18,5 mil milhões de euros da União Europeia e mais de oito mil milhões de dólares de um pacote dos EUA que também contém assistência militar vital.

Na mesma conferência de imprensa, Zelensky saudou ainda o que considerou como “uma enorme vitória” da Ucrânia sobre a Rússia no mar Negro, que permitiu estabelecer desde Agosto um “corredor marítimo” para exportação de mercadorias.

“Isso está integrado na nossa operação no Sul do país”, referiu o líder ucraniano, lembrando as ameaças russas de bombardeamentos e a suposta superioridade marítima da frota russa.

O impasse militar no terreno, sem grandes avanços e recuos desde há alguns meses, foi também abordado por Zelensky, nomeadamente a relação com o chefe das Forças Armadas, Valery Zaluzhny, que numa entrevista no mês passado à revista The Economist dava conta das muitas dificuldades que os militares ucranianos enfrentam numa contra-ofensiva que ficou aquém das expectativas, não só do Governo ucraniano como também dos aliados.

“Porque é que eu haveria de ajudar alguém a desenvolver este tema? Tenho uma relação de trabalho com Zaluzhny”, disse Zelensky, descrevendo o esforço de guerra do país como uma “história muito complicada” que envolve o contributo colectivo das chefias militares da Ucrânia.

Questionado sobre alguns casos de corrupção no Parlamento ucraniano, Zelensky voltou a defender que, para já, não é possível dissolver a Verkhovna Rada [o parlamento ucraniano], uma vez que teriam de ser realizadas eleições e, sob a lei marcial num contexto de guerra, não existem as condições necessárias para tal.

“Para mim, é importante que lutemos tanto quanto possível contra os riscos de corrupção e que os nossos parceiros digam que os fundos que nos dão não estão em risco”, disse o Presidente ucraniano, acrescentando que “as forças da lei e da ordem farão o seu trabalho”.

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