Bienal de arte de Coimbra sob lema de O Fantasma da Liberdade em 2024

Anozero vai decorrer de 6 de Abril a 30 de Junho de 2024, mas quer ir além das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril para pensar e reflectir sobre a liberdade.

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O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, tem sido o palco principal da bienal de arte contemporânea Anozero ADRIANO MIRANDA
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A edição de 2024 da bienal de arte contemporânea de Coimbra Anozero terá como título O Fantasma da Liberdade, num programa que procura ir para lá dos 50 anos do 25 de Abril, afirmou esta terça-feira a equipa curatorial composta por Marta Mestre e o espanhol Ángel Calvo Ulloa. "[O 25 de Abril] pode funcionar como um gatilho, como uma maneira de iniciar uma pesquisa, mas não se esgota nessa data e vai para além disso", disse Marta Mestre.

Para a edição de 2024, que vai decorrer de 6 de Abril a 30 de Junho, a equipa curatorial escolheu um título "muito ambíguo, polissémico", que dá azo a "diferentes tipos de leitura", salientou a curadora portuguesa, referindo que o tema é também o nome de um filme do realizador Luis Buñuel, que, por coincidência, saiu também em 1974, ano da Revolução dos Cravos.

"Há nexos discursos e poéticos que nos interessam explorar, nomeadamente essa relação daquilo que é da ordem do fantasmático com a história", salientou a curadora, que acrescenta não ser esta bienal "sobre o 25 de Abril", mas que procura ir para lá de uma ideia celebratória e pensar e reflectir sobre a liberdade.

"O fantasma é aquele que não se vê ao espelho, aquele que vagueia, aquele que paira sobre as cidades. Se formos mais 50 anos para trás, temos os 100 anos do manifesto surrealista e esta ideia de revoluções imaginadas, seja através da poesia seja da real existência da sociedade", vincou.

Para Ángel Calvo Ulloa, a equipa quis criar "um espaço de liberdade para que os trabalhos dos artistas tenham autonomia", acreditando que algumas obras irão tocar, "de forma mais ou menos evidente, a questão revolucionária".

"Entendemos que o momento em que vivemos não vem com promessas que a humanidade tentou criar. A ideia de futuro parece algo como um caminho que no fim tem um muro", notou.

Apesar de não deixar de lado o peso do 25 de Abril, a equipa pretende que se pense na liberdade que, também ela própria, pode ter virado "um fantasma, que é usada por todas as cores políticas, onde até a extrema-direita consegue usar e mexer nessa palavra e nesse conceito", afirmou o curador espanhol.

De acordo com Marta Mestre, haverá uma forte incidência de produções artísticas "localizadas no Sul global", expandindo a própria noção desse conceito para ir além "do mero cliché".

Para além dos dois curadores, a Anozero de 2024 conta também com um conselho curatorial, composto pelo director artístico do Instituto Moreira Salles (Brasil) e ex-director adjunto do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Espanha), João Fernandes, e pela arquitecta e curadora que ganhou o Leão de Ouro pela participação nacional de Angola na 55.ª Bienal de Veneza, em 2013, Paula Nascimento.

A bienal terá como epicentro o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, mas serão também ocupados outros espaços da cidade, como os dois locais do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), o Jardim Botânico ou o Colégio das Artes.

A Anozero é uma organização do CAPC, em parceria com a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra.

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