Bienal de Coimbra Anozero regressa em Abril com a possibilidade de ser a última

Possível transformação do Mosteiro de Santa-Clara-a-Nova em hotel pode deixar em risco a bienal de arte contemporânea. Programa para 2024 tem como curadores Ángel Calvo Ulloa e Marta Mestre.

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Ragnar Kjartansson em The Visitors: a Bienal de Coimbra dedicou-lhe, em 2023, a primeira exposição em Portugal ELISABET DAVIDS
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A edição de 2024 da bienal de arte contemporânea de Coimbra Anozero vai arrancar a 6 de Abril, anunciou a organização, que teme que esta possa ser a última edição face à possível transformação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova num hotel.

A próxima edição da Anozero vai decorrer de 6 de Abril a 30 de Junho de 2024, num programa que tem como curadores o espanhol Ángel Calvo Ulloa e a portuguesa Marta Mestre, afirmou a organização daquela iniciativa, organizada pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), em conjunto com a Câmara de Coimbra e a Universidade de Coimbra.

No entanto, face à transformação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, epicentro da bienal, num hotel de cinco estrelas ao abrigo do Revive, programa de requalificação de património para fins turísticos, poderá pôr em causa a continuidade da Anozero, disse à agência Lusa o director do CAPC, Carlos Antunes.

O concurso para a requalificação daquele monumento ainda não foi dado como concluído e não se conhece o teor das propostas apresentadas, num procedimento que majorava os candidatos que reservassem 600 metros quadrados para a bienal, solução que Carlos Antunes sempre criticou.

"Os termos definidos no caderno de encargos não servem à bienal e, sem haver uma alternativa evidente, significa que pode não existir mais [a bienal]. Se o hotel vingar e não houver uma alternativa, esta pode ser a última", vincou. Segundo o director do CAPC, a equipa de curadores está a programar a bienal "como as outras" edições, sem pensar que esta possa vir a ser a sua última, mas admite que "o fantasma está no ar e, conceptualmente, é uma coisa pesada".

"Temos esperança que isto não seja o grito final", salientou Carlos Antunes, referindo que os 600 metros quadrados no mosteiro não são "uma solução".

No entanto, o responsável notou que a Câmara de Coimbra ainda não apresentou à organização da Anozero qualquer alternativa, considerando que essa "solução" é da responsabilidade do município.

"Tem de ser uma alternativa que dignifique a bienal. Houve um trabalho de credibilização e de encontro entre pares ao longo de dez anos [a primeira edição foi em 2015]. Chegar a esta dimensão de reconhecimento internacional e depois fazer uma coisa pequena, nuns espacinhos da cidade... é preciso saber acabar. A fase quixotesca tem de terminar e são precisas condições para fazer a bienal, dignificando a arte e a cidade", realçou.

Para Carlos Antunes, a bienal tem ainda "uma margem de progressão brutal para a cidade, para o país e para o mundo".

"Ou isso é reconhecido e criam-se condições ou acaba-se. Temos de ponderar tudo isto com realismo. Acredito que o caminho da irrelevância não interessa à cidade, nem à bienal, nem à Câmara nem à Universidade", rematou.

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