Biden defende “pausa humanitária” que Israel tem recusado

Aliados de Israel começam a subir pressão para interrupção nos combates. “O tempo da legitimidade internacional está a passar”, escreve o Haaretz.

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As vítimas civis dos ataques de Israel, como em Jabalia, estão a levar a pedidos de mais contenção e de uma pausa humanitária Reuters
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que era favorável a uma pausa humanitária nos combates na Faixa de Gaza, e mais aliados de Israel têm sublinhado o peso para os civis no território dos bombardeamentos. Também o alto-comissariado da ONU para os direitos humanos disse que o número de mortes de civis no ataque de Israel ao campo de refugiados de Jabalia poderia “constituir crime de guerra”.

A afirmação de Biden foi feita de improviso, quando respondia a uma pessoa da assistência que o interrompeu numa acção de angariação de fundos em Minneapolis, dizendo que os EUA deveriam pedir um cessar-fogo. “Penso que precisamos de uma pausa. Uma pausa significa tempo para retirar os prisioneiros” – o Presidente esclareceu depois que se referia aos reféns israelitas nas mãos do Hamas.

O cessar-fogo é uma figura que os Estados Unidos têm recusado por implicar um acordo entre as duas partes, o que é actualmente impossível, dada a escala da ameaça do Hamas para Israel após o ataque de 7 de Outubro, em que o Hamas matou cerca de 1400 pessoas e fez mais de 200 reféns (242 segundo o número divulgado esta quinta-feira por Israel, do total de reféns; o Hamas libertou quatro mulheres e as forças israelitas resgataram uma).

Segundo a definição do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o cessar-fogo implica em geral todo o território, e é visto como uma possibilidade para abrir espaço para um diálogo sobre um possível futuro acordo político.

Já uma pausa humanitária não implica qualquer acordo, e pode aplicar-se durante um período de tempo muito limitado e abranger uma área também limitada, ainda segundo a definição do OCHA. Significa apenas que há uma pausa nos combates, ou ataques, para que seja permitido prestar ajudar humanitária – fazer chegar comida e medicamentos, retirar civis que precisem de tratamento, etc.

Na Austrália, outro aliado de Israel, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Penny Wong, congratulava-se com a saída de 20 australianos da Faixa de Gaza, mas deixou ainda uma mensagem para Israel. “A comunidade internacional não vai aceitar a continuação de mortes de civis; por isso, quando os amigos de Israel pedem a Israel para que mostre contenção, quando os amigos de Israel pedem a Israel para proteger vidas civis, é fundamental que Israel ouça”, declarou, citada pela BBC. “É importante”, continuou, “para a própria segurança de Israel que enfrenta um risco grave de o conflito se espalhar”.

Mais de 9000 mortos em Gaza

O Ministério da Saúde de Gaza, do Hamas, disse que morreram já mais de 9000 palestinianos desde 7 de Outubro. Os números dados pelo Hamas têm sido considerados fiáveis pelas agências humanitárias e da ONU, e nunca foram contestados em guerras anteriores. Morreram entretanto 15 militares israelitas, incluindo, foi anunciado esta quinta-feira, um comandante de um batalhão.

Uma análise do jornalista especializado em questões militares e de defesa Amos Harel do diário Haaretz dizia que “o tempo da legitimidade internacional está a passar”, e que “a simpatia que Israel teve pela tragédia do sábado negro [7 de Outubro] parece estar a diminuir com rapidez”, isto ainda que “as intenções assassinas do Hamas sejam claras” – um dos líderes do movimento, Razi Hamed, declarou recentemente que o ataque de 7 de Outubro seria “só o primeiro” contra Israel.

Do lado de Israel é ainda aguardada com expectativa, ainda segundo a análise de Harel, a visita do secretário de Estado, Antony Blinken, esta sexta-feira. Até agora, Blinken tem falado da ideia de pausas breves nos ataques aéreos e combates para o aumento de ajuda humanitária, mas não de um cessar-fogo, que comprometeria a acção militar de Israel e o seu objectivo de “acabar com o Hamas”. Israel tem rejeitado qualquer pausa, argumentando que beneficiaria o Hamas.

Do lado dos EUA tem-se repetido ainda a ideia de que é preciso ter um plano para o dia seguinte ao terminar a fase militar da operação militar: quem irá encarregar-se do território?

Israel parece não estar interessado em ocupá-lo, segundo já afirmou o ministro da Defesa, Yoav Gallant. A Autoridade Palestiniana já declinou também ficar com esta responsabilidade (o primeiro-ministro, Mohammad Shtayyeh, declarou ao Guardian que essa seria uma hipótese apenas no âmbito de um plano alargado “que incluísse a Cisjordânia”, para um Estado palestiniano). A Casa Branca afirmou entretanto que não há hipótese de tropas americanas fazerem parte de uma força internacional que hipoteticamente ficasse encarregada da Faixa de Gaza.

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