Como a greve de Hollywood está a alterar a programação do cinema e da TV até 2024

Um reality show inspirado em CSI, mais um adiamento para Tom Cruise e para o Pai Natal são parte do filme de incertezas que é a indústria norte-americana com os actores em protesto.

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Hayley Atwell e Tom Cruise em Missão: Impossível - Ajuste de Contas Parte Um Christian Black/Paramount Pictures

O Pai Natal não virá a Hollywood este ano. Querido Pai Natal, uma comédia dos irmãos Farrelly sobre um rapaz que acidentalmente envia uma carta a Satanás em vez do Pai Natal, não chegará aos cinemas nesta época festiva, uma das muitas vítimas de uma prolongada greve dos actores, que faz com que a indústria do entretenimento esteja a sentir uma das mais longas paralisações de trabalho da sua história.

A greve, que entrou na sua 15.ª semana, está a perturbar a programação de filmes do próximo ano e a atrasar o regresso das comédias e dramas do horário nobre da televisão.

Embora os guionistas de cinema e televisão tenham terminado a sua paralisação de 148 dias, as negociações entre actores e estúdios foram interrompidas há duas semanas e os dois lados disseram que continuam distantes em muitas questões. Voltam à mesa de negociações na terça-feira.

Grandes lançamentos como Missão: Impossível - Ajuste de Contas Parte 2, Gladiador 2 e Caça-Fantasmas: O Legado 2 foram adiados por causa da greve, assim como Bob Marley: One Love, um filme biográfico sobre o músico de reggae que estava a ser alvo de uma grande atenção para os Óscares.

Outros filmes, como a comédia romântica Anybody But You, agarram-se ao calendário de Dezembro, mas poderão ser adiados se as suas estrelas continuarem em greve e não estiverem disponíveis para ajudar na promoção, disseram à Reuters fontes com conhecimento directo do assunto.

"Todo o calendário de lançamentos vai ser alterado", disse um executivo de um estúdio, que identificou dois grandes filmes e uma sequela de um filme de animação que deveriam estrear-se em breve e cujos planos de lançamento foram alterados. “Tudo isto é um cubo de Rubik gigante."

Um financiador da indústria mudou a sua estratégia de investimento quando Hollywood paralisou vários projectos de grande orçamento dos estúdios, apoiando agora produções fora da América do Norte, incluindo o próximo filme do realizador Guy Ritchie, com Jake Gyllenhaal e Henry Cavill, que está a ser filmado em Espanha.

O analista de media Doug Creutz observou que as greves "vieram num momento muito difícil" para as grandes empresas de entretenimento, já a braços com o declínio do negócio tradicional da televisão por cabo, o fraco desempenho da publicidade e os serviços de streaming que, na sua maioria, perdem dinheiro. A estas preocupações acresce um sector de exibição em dificuldades, cujas receitas de bilheteira no trimestre do Natal poderão cair 30% ou mais abaixo dos níveis pré-pandemia, uma vez que a greve dos actores obrigou já a adiar a estreia de vários filmes.

A Warner Bros. Discovery, que adiou Duna: Parte Dois de Novembro para Março, reduziu as suas estimativas de lucros para este ano para 500 milhões de dólares, menos 300 milhões do que previa anteriormente. Nas próximas semanas, outros estúdios vão também fornecer os seus balanços do impacto financeiro da greve quando apresentarem os seus resultados trimestrais.

O Inverno está a chegar

Entre os mais afectados estão as produtoras independentes, cujo combustível provém da produção de filmes e televisão. Depois de terem adoptado uma série de medidas de redução de custos, como a redução de viagens, estão a ponderar despedimentos, dizem vários executivos das empresas. Algumas venderam direitos de filmes e de cinema e televisão para se manterem à tona, disse um comprador à Reuters.

Os responsáveis do sector da televisão esperam voltar à produção em Dezembro ou, o mais tardar, em Fevereiro ou Março, para fazer o que será uma temporada reduzida de séries para horário nobre. As comédias de meia hora devem voltar para o ar mais rapidamente do que os dramas de uma hora. Os guionistas já estão a elaborar os argumentos, disseram responsáveis dos canais à Reuters.

Ao mesmo tempo, os programadores estão a adoptar planos B pouco ortodoxos para preencher as grelhas, como um reality show inspirado em CSI, centrado em investigação forense em forças policiais, que está a ser preparado pela CBS, de acordo com duas fontes familiarizadas com o projecto.

Alguns filmes de grandes estúdios programados para o próximo ano poderão passar para 2025 se a greve continuar, segundo um responsável de um estúdio, o que preocupa o sector numa altura em que se arrisca a que o público deixe de ter o hábito de ir ao cinema. Um exibidor mostrou-se preocupado com a forma como vai encher os ecrãs de cinema de 2024, sublinhando que "não há nada em produção".

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