Em Hollywood, negociações entre actores em greve e estúdios foram suspensas

Dificuldade em chegar a um acordo mantém viva a paralisação dos actores, que dura desde 14 de Julho. Sindicato dos actores e associação que representa os estúdios trocam acusações.

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Um piquete de greve dos actores, esta semana em Los Angeles MIKE BLAKE
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O sindicato Screen Actors Guild - American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA), que representa os actores de Hollywood, e a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa os grandes estúdios e as plataformas de streaming, embateram num muro nas suas negociações para formular um novo contrato colectivo de trabalho. Num comunicado emitido após uma reunião na quarta-feira, o AMPTP afirmou que a distância que separa os dois lados da barricada é neste momento “demasiado grande”, e que as conversas já não estão a ser produtivas. O SAG-AFTRA, por seu turno, instou os seus membros a continuarem em greve, que dura já desde 14 de Julho. Este impasse negocial representa um “revés significativo para a indústria do entretenimento” nos Estados Unidos, resume o jornal The New York Times.

Hollywood enfrenta, há já vários meses, um período muito delicado. No dia 2 de Maio, o sindicato que representa os argumentistas, o Writers Guild of America (WGA), entrou em greve, depois de não ter conseguido chegar a acordo com os principais estúdios para um novo contrato colectivo de trabalho. A 14 de Julho, os actores juntaram-se-lhes com a sua própria paralisação, naquele que foi um momento histórico: pela primeira vez em 60 anos, os dois sectores renunciavam ao trabalho juntos. O WGA e a AMPTP chegaram a um entendimento e celebraram um novo contrato de trabalho no final de Setembro, mas os entraves nas negociações dos estúdios com os actores impedem o sector de regressar à normalidade.

O principal motivo do impasse actual, escreve a publicação especializada Variety, tem que ver com a seguinte reivindicação do SAG-AFTRA: o sindicato dos actores quer uma percentagem das receitas, conseguidas em contexto de streaming, de todos os filmes e programas de televisão cobertos pelo futuro acordo entre o sindicato e os estúdios (há produções que trabalham à margem dos sindicatos, independentemente de terem ou não actores ou outros trabalhadores envolvidos nas paralisações). A reclamação do SAG-AFTRA aplica-se quer a filmes ou séries feitos especificamente para transmissão num serviço de streaming, quer a produções trazidas para o streaming depois de se estrearem noutros ecrãs.

Se esta conquista se se materializasse, conforme aponta a Variety, iria “bem além” daquilo que conseguiram os argumentistas com a promessa, contemplada no novo contrato de trabalho, de bónus suplementares aos argumentistas dos conteúdos mais populares nos serviços de streaming.

“A proposta actual do SAG-AFTRA incluía aquilo que o sindicato caracterizou como um bónus de audiência que, por si só, custaria mais de 800 milhões de dólares [pouco mais de 750 milhões de euros] por ano, criando um fardo económico insustentável”, disse, num comunicado, a Alliance of Motion Picture and Television Producers. A associação que representa os grandes estúdios acusou o sindicato dos actores de ter apresentado zero ou escassas contrapropostas, com reduzida flexibilidade negocial; o SAG-AFTRA respondeu argumentando que a AMPTP está a veicular “informação enganosa”, no que está a ser visto como uma tentativa de descredibilizar junto dos actores os líderes sindicais que conduzem as negociações.

O SAG-AFTRA diz que a AMPTP exagerou em cerca de 60% o custo financeiro acima referido, e rejeita enfaticamente a ideia de que tem sido inflexível durante o processo. “Negociámos de boa-fé, apesar de a proposta nova que os estúdios nos apresentaram na semana passada, ser, chocantemente, menos valiosa do que o acordo sugerido antes do início da greve.”

A AMPTP afirmou que, no decurso das negociações agora colocadas em pausa, aceitou pedir consentimento ao sindicato para reproduzir características dos actores através de inteligência artificial (IA). O SAG-AFTRA, por seu turno, acusou os estúdios de, também neste ponto, estarem a ser enganosos. Citado pela Variety, o sindicato dos actores diz que os estúdios ainda estão, “no primeiro dia de trabalho” dos actores, a exigir esse consentimento individualmente para “uso de uma réplica digital de um intérprete para todo um universo cinematográfico, ou qualquer franchise project [projecto em que são criados vários conteúdos a partir de um trabalho-base]”. O SAG-AFTRA quer ter o poder para autorizar (ou não) qualquer utilização de IA por parte dos estúdios.​

O sindicato reivindica também aumentos-base de 11% transversais a vários direitos laborais, desde salários a pensões. A oferta da AMPTP está, neste momento, fixada nos 5%, seguidos de subidas posteriores de 4% e 3,5%, reporta a Variety. São os valores conseguidos pelos argumentistas e realizadores nas negociações de cada profissão ocorridas este ano.

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