FMI mais pessimista: PIB cresce 2,3% este ano e 1,5% em 2024

Fundo Monetário Internacional faz revisão em baixa generalizada das previsões para a zona euro, antecipa contracção na Alemanha este ano e projecta abrandamento dos países do Sul da Europa em 2024.

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Kristalina Georgieva é presidente do Fundo Monetário Internacional EPA/MICHAEL REYNOLDS
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No mesmo dia em que o Governo apresenta a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a traçar um cenário para a economia europeia e nacional menos positivo do que o antes esperado. É mais uma confirmação da deterioração da conjuntura que deverá levar a Alemanha a uma variação negativa do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e a economia portuguesa a um abrandamento significativo no próximo.

No relatório de Outono sobre a economia mundial publicado esta terça-feira, o FMI estima que, este ano, a economia portuguesa registe um crescimento de 2,3%. É um valor que representa uma revisão em baixa face à previsão de 2,6% feita pelo Fundo em Abril, mas que ainda assim está ligeiramente acima dos 2,1% que o Banco de Portugal avançou como projecção de crescimento este ano na semana passada e que o Governo, de acordo com as indicações dadas pelo ministro das Finanças aos grupos parlamentares na sexta-feira, deverá usar no cenário macroeconómico da proposta de OE que será entregue esta terça-feira.

Já no que diz respeito a 2024, as previsões do FMI passaram a estar em linha com aquilo que tanto o Banco de Portugal como o Governo estão a antever. Se, em Abril, o Fundo apontava para um crescimento de 1,8%, agora passou a prever apenas 1,5%.

Estas revisões em baixa das previsões para Portugal são comuns à generalidade dos países da zona euro. Para o total da economia da moeda única, o FMI prevê agora um crescimento de 0,7% este ano e de 1,2% no próximo, menos do que os 0,9% e 1,5%, respectivamente que eram antecipados em Julho, quando foi feita uma previsão intercalar para as maiores economias mundiais.

Isto significa que o FMI continua, tanto para este ano como para o próximo, a colocar a economia portuguesa a crescer mais do que a média da zona euro, sendo que, enquanto em média a economia europeia acelera ligeiramente em 2024 depois de um ano de 2023 de crescimento incipiente, Portugal, depois de resistir melhor este ano (graças essencialmente a um muito positivo primeiro trimestre), abranda no próximo.

De facto, nas previsões do FMI para a zona euro é possível notar a existência de dois grupos com perfis de crescimento diferentes. A generalidade das economias do Norte da Europa revelam um desempenho económico muito fraco durante este ano, conseguindo depois recuperar moderadamente no ano seguinte. O cano mais evidente é o da Alemanha, a maior economia europeia, para a qual o FMI espera uma contracção do PIB de 0,5% este ano, a que se seguirá, em 2024 um crescimento de 0,9%.

Depois, mais a Sul, países com um forte peso do turismo como a Espanha, Grécia, Croácia ou Portugal, deverão conseguir registar um crescimento acima de 2% este ano, mas acabam também por ser vítimas da deterioração geral da conjuntura, com um abrandamento das suas economias que é já notório na segunda metade de 2023 e que conduzirá, antecipa o FMI, a taxas de crescimento mais moderadas em 2024.

O impacto da subida das taxas de juro explica, em larga medida, aquilo que está a acontecer na economia europeia, mas, em comparação como os EUA, onde as taxas de juro também subiram, a retoma menos forte da zona euro é explicada pelo FMI com “a maior exposição à guerra na Ucrânia e choque adverso nos termos de troca a ela associados”.

Para o FMI, já se está a chegar, nos países desenvolvidos, ao fim do ciclo de subida de taxas de juro. “Muito pouco aperto adicional [da política monetária] é necessário”, diz o Fundo que ainda assim avisa contra o risco de declarar o fim da guerra à inflação demasiado cedo. “Aliviar prematuramente [o aperto monetário] iria desperdiçar os ganhos conquistados nos últimos 18 meses”, afirma.

Já no que diz respeito à política orçamental que deve ser seguida pelos governos, o Fundo repete a ideia de que o fundamental neste momento é “reconstruir as almofadas orçamentais que foram severamente gastas durante a pandemia e a crise energética”. E dá um exemplo de medida que considera ter de ser tomada: retirar os subsídios à energia.

Nas suas previsões para Portugal, o FMI aponta ainda para um abrandamento da taxa de inflação de 5,3% este ano para 3,4% no próximo; com o desemprego, depois de subir de 6,1% para 6,6% este ano, a estabilizar nos 6,5% em 2024. O Fundo vê ainda o saldo da economia portuguesa com o exterior, medido pela balança de transacções correntes, a registar valores positivos, ligeiramente acima de 1%, tanto este ano como no próximo.

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