PSD e Chega: o tabu desfez-se de vez?

Montenegro disse na Madeira que não pensar sequer em governar com o Chega. Foi mais um passo na demarcação (lenta) em relação a Ventura

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Luís Montenegro, que na recta final da campanha da Madeira passou muito tempo de mãos dadas com o candidato do PSD-CDS ao governo regional, Miguel Albuquerque, decidiu seguir-lhe o exemplo e desfez o tabu sobre o Chega. Com uma frase (“Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega porque não precisamos”), pretendeu enterrar as dúvidas que persistem desde o início e que envolveram também toda a liderança do seu antecessor Rui Rio (e que não teve um final feliz).

Na verdade, aquilo a que se assistiu nas últimas semanas, desde as rentrées partidárias, apontava para esse sentido. A pressão de Marcelo Rebelo de Sousa e a reunião de uma série de ex-dirigentes da direita à volta de Luís Montenegro, como Durão Barroso, Paulo Portas e até Cavaco Silva, pretenderam dizer ao eleitorado do PSD que o partido estava mobilizado, que havia uma espécie de toque a rebate na união de esforços contra a maioria absoluta do PS e que se esse espaço do PSD e do CDS estava unido (Lobo Xavier, Manuel Monteiro e Assunção Cristas também responderam à chamada) isso quereria dizer que Montenegro devia apelar ao voto útil, dramatizar e com isso tentar concentrar o maior número possível de vontades.

As próximas eleições europeias, em Junho, podem, inclusive, começar por ser um teste a essa caminhada a dois, PSD e CDS, a nível nacional, com o CDS a tornar-se para o PSD uma espécie de “Movimento Humanismo e Democracia do PS”. Mais tarde ou mais cedo, tudo aponta para que seja apenas por essa via, ou seja, pela mão do PSD, que o partido de Paulo Portas consiga voltar a pôr um pé na Assembleia da República.

Há, porém, uma parte do PSD que ainda não estará muito convencida com o fim do tabu em relação ao Chega e que impediu, aliás, Luís Montenegro (que está no cargo há quase ano e meio) de separar as águas mais cedo.

Na Madeira, foi fácil Miguel Albuquerque afastar o Chega, uma vez que só precisava de um lugar que poderia garantir com o PAN ou a Iniciativa Liberal. Nas eleições para a Assembleia da República, Montenegro não parte da posição de Miguel Albuquerque mas da de Sérgio Gonçalves, o líder do PS-Madeira que viu a maioria absoluta no poder esboroar-se não pelo seu talento para fazer oposição mas pela fragmentação dos votos por um número nunca visto de partidos.

Com a frase proferida domingo à noite no Funchal (“Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega porque não precisamos”), o presidente do PSD está amarrado a esse compromisso. A menos que a parte da frase “porque não precisamos” seja propositadamente ambígua.

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