Imprensa japonesa lamenta silêncio sobre abusos sexuais da agência J-pop

Só depois de a BBC ter transmitido um documentário em Março é que os meios de comunicação social locais seguiram o exemplo, provocando a indignação nacional.

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Um documentário da BBC denunciou os abusos Reuters/HENRY NICHOLLS

Depois de a principal agência de talentos do Japão, a Johnny & Associates, ter pedido desculpa, na quinta-feira, por décadas de abusos sexuais cometidos pelo seu falecido fundador, as emissoras locais emitiram raros mea culpa por não terem noticiado as alegações durante anos.

Os abusos cometidos por Johnny Kitagawa, o homem por detrás de algumas das mais populares boys bands japonesas, como a SMAP e a Arashi, tinham sido denunciados pelo tablóide local Shukan Bunshun, já em 1999. Kitagawa processou a revista, mas os principais meios de comunicação social evitaram cobrir o processo ou investigar a história.

Só depois de a BBC ter transmitido um documentário em Março — quatro anos após a morte de Kitagawa, aos 87 anos — é que os meios de comunicação social locais seguiram o exemplo, provocando a indignação nacional.

“Esta questão foi frequentemente noticiada em revistas semanais e outras publicações, e a decisão do Tribunal Superior de Tóquio sobre o facto de ter havido agressão sexual foi confirmada em 2004”, afirmou a emissora pública NHK num comunicado na quinta-feira.

“Mas a sensibilização da NHK para esta questão era escassa e nunca demos seguimento a uma reportagem mais aprofundada ou decidimos abordá-la”, afirmou, prometendo melhorias.

Na semana passada, uma comissão de terceiros criada para investigar as alegações revelou que Kitagawa tinha abusado sexualmente de centenas de rapazes e jovens e censurou os meios de comunicação social pelo seu silêncio.

Kauan Okamoto, uma vítima dos abusos cometidos por Kitagawa, disse que não tinha conhecimento das alegações antes de entrar para a agência porque estas eram pouco divulgadas.

Outros grandes organismos de radiodifusão, incluindo a NTV, a TV Asahi e a Fuji TV, também emitiram declarações prometendo fazer melhor.

“A conduta dos meios de comunicação social em relação à questão da violência sexual também está a ser questionada [com este caso]”, afirmou a TV Asahi. “Vamos ter em conta as vozes das vítimas, o relatório [independente] e as opiniões e sugestões dos telespectadores e reflecti-las nas nossas futuras emissões e actividades.”

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