Dezenas de ucranianos agradecem a Portugal e pedem fim da guerra na Ucrânia

No Dia da Independência da Ucrânia, dezenas de pessoas, na maioria ucranianas, caminharam da Avenida da Liberdade até à Praça da Rossio para agradecer o apoio de Portugal e apelar ao fim da guerra.

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Ucranianos agradeceram esta quinta-feira a ajuda dos portugueses desde a invasão russa da Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022 TIAGO PETINGA / LUSA

Dezenas de pessoas, na maioria ucranianas, desceram na tarde desta quinta-feira a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para agradecer o apoio de Portugal desde o início da invasão russa da Ucrânia, há um ano e meio, e pedir o fim da guerra.

No dia em que a Ucrânia assinala o 32.º aniversário da sua independência e que o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, termina uma visita a Kiev, a concentração em Lisboa, marcada pelas cores nacionais amarelo e azul — e que se realizou também no Porto —, juntou-se a uma iniciativa internacional.

"O nosso tema de hoje é agradecer a todos os povos e todos os governos que estão junto com a Ucrânia", afirmou Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos de Portugal, à frente de uma bandeira ucraniana de 30 metros que se encontrava à cabeça do desfile.

O dirigente da comunidade ucraniana destacou a importância desta data, que coincide com um ano e meio de conflito, e que lembra à comunidade todos os compatriotas que permanecem no país de origem, familiares, amigos e aqueles que travam a luta contra a invasão russa, fazendo acreditar na vitória, que não seria possível "sem apoio do mundo democrático".

Esta esperança, afirmou, também foi expressada por Marcelo Rebelo de Sousa em Kiev e, ainda que a Ucrânia peça mais ajuda dos aliados, vai surgir uma fase, no pós-guerra, de reconstrução em que "todos têm de ajudar" um país que ambiciona ser Estado-membro da União Europeia.

"Estamos na Europa, estamos no centro da Europa, temos cultura europeia, fazemos parte desta Europa, defendemos esta Europa há vários séculos, até do nazismo e fascismo, por isso não há outro caminho", sustentou Pavlo Sadokha.

Segundo os últimos dados oficiais, Portugal acolheu 56 mil refugiados ucranianos e, desde a invasão russa, iniciada em 24 de Fevereiro de 2022, apenas quatro mil não renovaram a sua autorização de estatuto de acolhimento, uma vez que "é muito difícil ter as famílias separadas", explicou o presidente da Associação dos Ucranianos de Portugal.

A fuga da Ucrânia e o agradecimento a Portugal

Com o filho ao colo, Tanya, de 34 anos, exibia no desfile as cores do seu país, onde deixou o marido e o resto da família há cerca de um ano, já depois de as forças russas terem abandonado as imediações da capital.

"Era um barulho tão alto com as bombas que passavam por cima que tomámos a decisão de sair e estamos muito gratos a Portugal. Sentimo-nos seguros aqui e acreditamos que um dia voltaremos. O nosso coração está sempre lá", afirmou em inglês a refugiada, ainda sem emprego, descrevendo o país de acolhimento como "muito bom, de pessoas muito simpáticas e uma natureza muito bonita".

Entre palavras de ordem em ucraniano, como "glória à Ucrânia, glória aos heróis", os participantes, muitos dos quais mulheres jovens com trajes brancos tradicionais, levavam também cartazes com palavras a pedir paz ou descrevendo a Rússia como "Estado terrorista".

"Obrigado Portugal" era justamente a mensagem síntese que Olga, de 38 anos, natural de Kiev, pintou num pedaço de cartão com as cores verde e vermelha, em agradecimento pelo apoio durante "estes tempos muito difíceis e de sacrifício para a Ucrânia", dos quais não conseguiria sair "sem apoio dos amigos portugueses".

Olga conseguiu escapar à guerra duas vezes, em 2012 na sua terra natal, Donetsk — dois anos antes de eclodir o levantamento pró-russo na região do Donbass — e depois em Kiev, em 2022, seis meses antes da invasão russa, quando se juntou ao companheiro português em Carcavelos, onde é programadora e tem a companhia da mãe, que fugiu entretanto da guerra.

Há quase 12 anos que não consegue voltar a Donetsk. A Kiev, Olga regressou duas vezes, a última das quais em Maio, descrevendo, em português, uma situação "muito grave" no seu país, mesmo na capital, que permanece longe das zonas de frente, mas continua a ser fustigada por ataques aéreos que não consegue descrever.

O desfile terminou na Praça do Rossio, onde foi inaugurada a exposição Crianças da Ucrânia, Crianças do Mundo.

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