Incêndio “faminto” em Tenerife já consumiu 5000 hectares de pinhal e continua “descontrolado”

Incêndio em Tenerife obrigou à retirada de 26 mil pessoas. Perímetro alcançou 50 quilómetros. Fogo continua descontrolado e com “comportamentos incomuns”. Meteorologia e encostas dificultam combate.

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Desde terça-feira, 15 de Agosto, já foram consumidos 5000 hectares de massa florestal Reuters/NACHO DOCE
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Os incêndios que estão a consumir as zonas florestais da ilha espanhola de Tenerife, nas Canárias, já obrigaram à retirada de mais de 26 mil pessoas num circuito com quase 70 quilómetros que passa por 11 municípios entre Guímar e La Orotava, na zona norte da ilha. A população está a ser abrigada em albergues municipais preparados com o apoio da Cruz Vermelha de Espanha, que cedeu as camas.

Desde terça-feira, 15 de Agosto, já foram consumidos 5000 hectares de massa florestal, quase inteiramente composta por pinheiros. O presidente do governo das Ilhas Canárias, Fernando Clavijo, descreveu o incêndio como "faminto" e "com comportamentos incomuns", conta o El Confidencial. Começou como um incêndio florestal, de acordo com o relato da autarca de Tenerife, Rosa Dávila, mas "alcançou outras dimensões" a ponto de estar, ainda agora, "descontrolado".

Um dos maiores obstáculos no combate às chamas está a ser o clima — que, segundo Fernando Clavijo, "se virou contra todos os trabalhos realizados". O ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, acreditava na sexta-feira que as condições meteorológicas seriam mais favoráveis ao longo do fim-de-semana. Mas "a realidade foi diferente das expectativas", disse o presidente do governo das Canárias neste sábado, segundo o El País: as altas temperaturas (na ordem dos 34ºC) que se previam para este sábado, a pouca humidade e o vento voltaram a dificultar as operações.

“O comportamento meteorológico de ontem [sexta-feira] à noite foi francamente severo para as condições do incêndio", descreveu Fernando Clavijo, num ponto de situação efectuado na manhã deste sábado. "Os ventos, a temperatura e as circunstâncias foram muito piores do que o esperado, o que fez com que o fogo alastrasse, principalmente na encosta norte”, explicou.

Outra dificuldade é o declive do território, rico em combustível seco, o que dificulta o acesso aos focos de incêndio e permite ao fogo avançar com mais velocidade. De acordo com a liderança técnica do Centro Coordenador de Emergências e Segurança, ao cuidado de Pedro Martínez, "as encostas (...), a presença de fumo e o comportamento do vento abriram poucas janelas" aos bombeiros para combater as frentes activas, tanto no terreno, como por via aérea.

As actualizações mais recentes dizem que estão no terreno cerca de 600 operacionais, apoiados por 19 aeronaves, incluindo um helicóptero Kamov com capacidade para 4500 litros de água. Mas muitas das regiões não podem ser abordadas através de aeronaves por não haver condições de visibilidade à conta do fumo. Ainda assim, desde terça-feira, realizaram-se 1800 descargas, que totalizam o lançamento de 2,7 milhões de litros de água, diz o El País.

Os municípios mais afectados estão a ser Arafo, Candelaria, El Rosario, La Orotava, Santa Úrsula, La Victoria, El Sauzal, Tacoronte, La Matanza e Guímar. Todas as estimativas sobre a área ardida e o perímetro do incêndio, calculado em 50 quilómetros, são de sexta-feira. Por isso mesmo, não incluem as informações relativas ao comportamento do incêndio nas últimas 24 horas.

Rosa Dávila disse que "este incêndio tem uma dimensão nunca antes vista nas ilhas Canárias, desde que há registos". Há pelo menos 40 anos que não havia no arquipélago um incêndio tão complexo na região. O fogo está a condicionar o acesso à água porque provocou uma rotura em Aguamansa, numa zona que continua inacessível aos bombeiros. A autarquia de Tenerife está a apelar ao "uso responsável" deste recurso.

As autoridades espanholas — a Guarda Civil e o Serviço de Protecção da Natureza — já estão a investigar as causas do incêndio, que lavra há quatro dias. Todo o arquipélago está a ser afectado pela má qualidade do ar provocada pelo fumo dos incêndios, que está a poluir a atmosfera com cinzas, poeiras e gases. O governo das Canárias descreveu a qualidade do ar na região como "desfavorável".

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