China lança manobras militares em torno de Taiwan. Ilha condena exercícios

Governo de Taiwan acusa a China de querer influenciar as eleições, mas sublinha que a decisão “cabe aos cidadãos”. Exercícios começaram depois de o vice-presidente taiwanês passar pelos EUA.

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A China considera Taiwan uma das suas províncias WU HAO/EPA

O exército da China anunciou este sábado o arranque de exercícios militares marítimos e aéreos junto de Taiwan, dias após a passagem do vice-presidente taiwanês, William Lai Ching-te, pelos Estados Unidos da América (EUA).

O Comando do Teatro Oriental, um dos cinco comandos do Exército de Libertação do Povo que supervisiona o mar da China Oriental, incluindo o Estreito de Taiwan, anunciou que as manobras constituem um "sério aviso" aos "grupos separatistas" da ilha e às "forças externas" que os apoiam.

O porta-voz do comando, o coronel Shi Yi, disse que as manobras serão realizadas na área adjacente a Taiwan, com a participação de "navios e aeronaves de combate", para "praticar a coordenação entre si" e o "controlo do espaço aéreo e marítimo".

De acordo com um comunicado, publicado na rede social Weibo – semelhante à X (antigo Twitter), bloqueada na China –, os exercícios visam “testar a real capacidade de combate” das tropas do Comando do Teatro Oriental, que é responsável pela defesa da costa leste da China.

Em reacção, o Ministério da Defesa de Taipé disse num comunicado que "condena veementemente este comportamento irracional e provocativo e enviará as forças adequadas em resposta (...) a fim de defender a liberdade, a democracia e a soberania de Taiwan".

"China quer influenciar as próximas eleições em Taiwan"

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan também acusou a China de tentar "moldar" as eleições de 2024, mas sublinhou que a decisão eleitoral passa apenas pelos seus cidadãos. "A China deixou claro que quer influenciar as próximas eleições nacionais em Taiwan", afirmou Joseph Wu na rede social X (antigo Twitter), acrescentando: “Cabe aos nossos cidadãos decidir, não ao nosso vizinho tirânico".

Horas após a China ter anunciado o arranque de exercícios, Taipé já detectou a presença de 42 aviões militares chineses nas imediações da ilha. O Ministério da Defesa taiwanês disse que entre os aviões detectados estavam caças J-10 e J-11, e que 26 das 42 aeronaves atravessaram a linha mediana que separa a ilha da China continental.

Num comunicado divulgado na rede social X (antigo Twitter), o Ministério acrescentou que também foram detectados oito navios militares chineses entre as incursões, que começaram por volta das 9h (2h da manhã em Lisboa).

As autoridades de Taiwan responderam com o destacamento de aviões e navios e com a activação de sistemas de mísseis terrestres, indicou o comunicado.

Passagem de William Lai pelos EUA motivou exercícios

William Lai voltou a Taipé na sexta-feira, depois de viajar para o Paraguai, onde participou na posse de Santiago Peña como novo Presidente daquele país, um dos poucos a reconhecer oficialmente Taiwan.

O vice-presidente fez duas paragens em Nova Iorque e em São Francisco, tendo sido recebido por representantes do Instituto Americano de Taiwan, que actua como a embaixada norte-americana de facto na ilha, na ausência de relações diplomáticas oficiais entre Washington e Taipei.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China tinha prometido no domingo passado "medidas firmes" contra a passagem de Lai pelos Estados Unidos, algo que considerou ser um ataque às suas reivindicações de soberania sobre Taiwan. "A China opõe-se firmemente a qualquer forma de contacto oficial entre os Estados Unidos e Taiwan e opõe-se firmemente a qualquer viagem de separatistas pela independência de Taiwan aos Estados Unidos", declarou um porta-voz.

A China considera Taiwan, onde cerca de 23 milhões de habitantes são governados por um sistema democrático, uma das suas províncias e não renunciou ao eventual uso da força militar para conseguir a reunificação.

O exército chinês já tinha lançado em Abril manobras de três dias em redor de Taiwan, em reacção a uma reunião nos Estados Unidos entre o presidente da Câmara dos Deputados norte-americana, Kevin McCarthy, e a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.

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