Metas para reduzir emissões fósseis são “bastante irrelevantes”, conclui relatório

Relatório divulgado esta segunda-feira critica falta de transparência e compromisso das 112 maiores empresas de combustíveis fósseis que estabeleceram metas para as emissões de gases do efeito estufa.

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Cerca de 75 das 112 maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo comprometeram-se a atingir o objectivo de zero emissões líquidas DR/Pxfuel

O número de empresas de combustíveis fósseis que estabeleceram metas de “zero emissões líquidas” aumentou acentuadamente no ano passado. No entanto, a maioria não aborda as principais preocupações, tornando-as “bastante irrelevantes”, como mostrado num relatório divulgado esta segunda-feira.

Cerca de 75 das 112 maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo comprometeram-se a atingir o objectivo de zero emissões líquidas — quando as emissões de gases com efeito de estufa são anuladas por cortes profundos na produção noutros locais e por métodos de absorção do dióxido de carbono atmosférico.

Este número é superior aos 51 registados há um ano, segundo a avaliação dos dados publicamente disponíveis efectuada pela Net Zero Tracker, gerido em parte pela Unidade de Informação Energética e Climática (ECIU, na sigla em inglês), sediada na Grã-Bretanha, e pela Universidade de Oxford.

Mas a maioria dos objectivos não cobre totalmente ou não é transparente no que se refere às emissões de âmbito 3 — que incluem a utilização dos produtos de uma empresa, a maior fonte de emissões para as empresas de combustíveis fósseis — ou não incluem planos de redução a curto prazo, acrescenta o relatório.

Isto torna-os “amplamente insignificantes”, afirmou o documento. O relatório também concluiu que nenhuma das empresas analisadas assumia os compromissos necessários para se afastar da extracção ou produção de combustíveis fósseis.

Actualmente, cerca de 4000 países, estados, regiões, cidades e empresas em todo o mundo comprometeram-se a atingir a meta de zero emissões líquidas. Em Novembro de 2022, as Nações Unidas emitiram orientações sobre o que deve ser uma “boa” estratégia para evitar o greenwhasing — quando uma empresa se promove como sustentável, mas não assume práticas favoráveis ao meio ambiente.

“Ainda não vimos uma grande mudança por parte das empresas de combustíveis fósseis ou de outras empresas no cumprimento dessas [directrizes], pelo que ainda há muito trabalho a fazer para alcançar esse nível”, afirmou Thomas Hale, da Universidade de Oxford, co-autor do relatório.

Daisy Streatfield, directora de sustentabilidade da gestora global de activos Ninety One, constata que “planos credíveis e uma execução significativa não acontecerão de um dia para o outro”, com muitas empresas a desempenhar um trabalho melhor do que os governos nacionais.

Um estudo publicado na semana passada na revista Science concluiu ser improvável que cerca de 90% dos objectivos de zero emissões líquidas dos países sejam alcançados.

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