Grupo Wagner suspeito de apoiar paramilitares no Sudão

Segundo notícias da CNN e do Wall Street Journal, a Rússia está a apoiar as RSF nos combates contra o Exército sudanês, através das bases do general líbio Khalifa Haftar.

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Os combates no Sudão já fizeram mais de 200 mortos Reuters/STRINGER

O grupo de mercenários russo Wagner estará a fornecer armas aos combatentes das Forças de Acção Rápida (RSF, na sigla em inglês) na guerra que eclodiu no Sudão e que opõe o líder das RSF, o general Mohamed Hamdan Dagalo, ao chefe das Forças Armadas sudanesas e líder de facto do país, o general Abdel Fattah al-Bourhan.

Segundo o canal norte-americano CNN, imagens de satélite e informações de fontes diplomáticas na região indicam que um avião de transporte russo — um Ilyushin-76 — fez pelo menos duas viagens, na última semana, entre a base russa em Latakia, na Síria, e duas bases na Líbia controladas pelas forças do general líbio Khalifa Haftar, apoiado pelo grupo Wagner.

A primeira viagem decorreu na quinta-feira da semana passada — dois dias antes do início do conflito no Sudão —, e a segunda na última terça-feira.

Segundo a CNN, os movimentos russos coincidem com um reforço da capacidade militar das RSF, cujo arsenal de mísseis terra-ar tem sido fundamental para a sua resistência nos combates contra o Exército sudanês.

A notícia do apoio do general líbio aos combatentes das RSF no Sudão foi avançada na quarta-feira pelo jornal Wall Street Journal, que também noticiou o apoio do Egipto ao Exército sudanês.

Nesta sexta-feira, a CNN publica imagens de satélite e registos de voos que mostram, segundo o canal, um avião de transporte russo a sair da base líbia de Al-Khadim — controlada pelo general Haftar — em direcção à cidade portuária de Latakia, na Síria — onde a Rússia tem uma importante base.

No dia seguinte, o aparelho regressa a Al-Khadim e, 24 horas depois, parte em direcção a uma outra base na Líbia, Al-Jufra, também controlada pelo general Haftar, onde ficou aparcado numa área isolada — um movimento que, segundo o especialista ouvido pela CNN, é “altamente invulgar”.

O primeiro voo foi registado na quinta-feira da semana passada, dois dias antes do início do conflito no Sudão; na terça-feira, o avião de transporte russo partiu de Al-Jufra para Latakia, e daí para Al-Khadim e novamente para Al-Jufra.

Segundo a CNN, a segunda chegada do Ilyushin-76 à base líbia de Al-Jufra aconteceu no dia em que a Rússia forneceu mísseis terra-ar, por via aérea, aos combatentes das RSF no Noroeste do Sudão.

O mais recente conflito armado no Sudão começou no sábado e já fez mais de 200 mortos, com as Nações Unidas a alertarem para uma possível nova catástrofe humanitária no país.

O início dos combates é o desfecho de um período de tensão entre Dagalo e Bourhan sobre o futuro da governação no país, após o afastamento de Omar al-Bashir, em 2019; e de um golpe de Estado militar, em 2021, de que resultou uma promessa de transição para um poder civil.

Segundo uma outra investigação da CNN, publicada no Verão de 2022, o apoio russo aos militares sudaneses começou em 2014, na sequência da invasão da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, e intensificou-se após a invasão da Ucrânia, em Fevereiro de 2022.

Durante esse período, Bourhan e Dagalo — agora em lados opostos nos combates — eram aliados, com o chefe do Exército sudanês a liderar o Conselho Soberano (sendo o líder de facto do país) e o comandante das RSF no cargo de vice-presidente.

O apoio russo aos militares sudaneses foi, ainda segundo a investigação da CNN, uma forma de o Kremlin ter acesso às riquezas naturais do Sudão, por forma a contornar as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia nos últimos anos.

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