EUA dizem que Guterres é “demasiado atencioso” com exigências da Rússia

Em documentos incluídos na última fuga de informação do Pentágono, os EUA acusam o secretário-geral da ONU de “prejudicar esforços mais abrangentes para responsabilizar Moscovo pela invasão”.

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Num dos documentos, Guterres mostra-se "desalentado" com os apelos ao aumento da produção de armamento na União Europeia Reuters/FEISAL OMAR

Os serviços de informação dos Estados Unidos e a Administração Biden estão convencidos de que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem sido demasiado solícito a tentar ajudar a Rússia a melhorar a sua capacidade de exportação de cereais e fertilizantes. Segundo Washington, algumas acções de Guterres “têm prejudicado esforços mais abrangentes para responsabilizar Moscovo pela invasão da Ucrânia”.

A avaliação de Washington sobre a postura de Guterres na gestão da guerra na Ucrânia, noticiada nesta quinta-feira pela BBC, faz parte da última fuga de informação no Pentágono, que inclui segredos políticos e militares de vários aliados e adversários dos EUA.

Num dos documentos, segundo a BBC, os serviços de informação norte-americanos dizem que o secretário-geral da ONU se esforçou para que a Rússia pudesse melhorar a sua capacidade de exportação de cereais e fertilizantes, “mesmo que isso tivesse de envolver entidades ou indivíduos russos sancionados”.

Os cereais e fertilizantes russos não estão abrangidos pelas sanções internacionais, mas a Rússia queixa-se de que essas sanções têm dificultado a obtenção de seguros de navegação e contratos para transporte.

As críticas dos EUA a Guterres foram mal recebidas em Nova Iorque, com um alto responsável da ONU, citado pela BBC sob anonimato, a afirmar que a postura do secretário-geral “tem sido impulsionada pela necessidade de mitigar o impacto da guerra nos mais pobres do mundo”. “Isso significa que temos de fazer os possíveis para fazer baixar os preços dos alimentos”, cita a BBC.

Durante uma visita a Kiev, em Março, Guterres disse que o acordo mediado pela ONU “permitiu a exportação de 23 milhões de toneladas de cereais a partir de portos ucranianos” e “contribuiu para baixar o custo dos alimentos globalmente”. Por esse motivo, argumentou, “a exportação de alimentos e fertilizantes ucranianos, mas também russos, é essencial para a segurança alimentar mundial e para os preços da comida”.

Num outro documento incluído na fuga de informação do Pentágono, onde é relatada uma conversa entre o secretário-geral e a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, Guterres mostra-se “desalentado” com os apelos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a um aumento da produção de armamento na sequência da guerra na Ucrânia.

No decorrer da mesma conversa, Mohammed classifica o novo Presidente do Quénia, William Ruto, como “cruel” e diz que não confia nele.

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