Fuga de segredos militares causa desconforto e indignação na Coreia do Sul

Gabinete do Presidente sul-coreano tenta desvalorizar o caso afirmando que muitas informações “foram fabricadas”, mas a oposição exige um pedido de desculpas a Washington.

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O Presidente dos EUA, Joe Biden, com os secretários de Estado e da Defesa norte-americanos, Antony Blinken e Lloyd Austin EPA/SHAWN THEW

A fuga de informação no Pentágono sobre segredos militares de aliados dos Estados Unidos levou a Administração Biden a lançar uma operação de controlo de danos em vários países, com destaque para a Coreia do Sul.

Em Seul, os líderes do principal partido da oposição, o Partido Democrático, acusaram o Governo sul-coreano de não ter sido capaz de impedir "uma violação de segurança em grande escala", e exigiram um pedido de desculpas de Washington à população do país.

"A ser verdade que eles nos espiaram, isso pode ter consequências para a aliança EUA-Coreia do Sul, que se baseia numa relação de confiança mútua", disse Lee Jae-myung, o líder do Partido Democrático, citado pelo New York Times.

No caso da Coreia do Sul, a informação mais sensível nas dezenas de documentos que foram postos a circular nas últimas semanas diz respeito às dúvidas de altos conselheiros do Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, sobre o destino final das munições de artilharia que o país se preparava para vender aos EUA.

Em particular, os conselheiros mostravam-se preocupados com a hipótese de as munições serem enviadas para a Ucrânia — o que seria uma violação das leis sul-coreanas, que proíbem o envio de armamento para países em guerra.

Na manhã desta terça-feira, o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, falou ao telefone com o seu homólogo sul-coreano, Lee Jong-sup, "para explicar as notícias sobre a suposta fuga de segredos militares", segundo o comunicado do Ministério da Defesa da Coreia do Sul.

Após a conversa, o gabinete do Presidente sul-coreano veio desvalorizar o impacto da fuga na aliança entre os dois países.

"Os dois países partilham a avaliação de que muita da informação revelada foi alterada", disse o vice-conselheiro de Segurança Nacional sul-coreano, Kim Tae-hyo. Num outro comunicado, citado pelo Washington Post, o gabinete do Presidente da Coreia do Sul disse que "as alegações sobre uma suposta quebra de segurança são completamente falsas".

No Egipto, a notícia de que o Presidente do país, Abdel Fatah El-Sisi, terá planeado em segredo o fornecimento de 40 mil rockets à Rússia — com o desejo explícito, segundo os documentos do Pentágono, de "não arranjar problemas com o Ocidente" — motivou uma reacção seca e institucional por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país.

"Desde o início que a posição do Egipto assenta no não-envolvimento nesta crise, mantendo igual distância entre os dois lados", disse Ahmed Abu Zeid, porta-voz do ministério. "Continuamos a pedir a ambas as partes que ponham fim às hostilidades e que alcancem uma solução política."

Em Washington, o senador Chris Murphy, do Partido Democrata, sugeriu que a relação entre os dois países — através da qual o Egipto recebe mil milhões de dólares dos EUA todos os anos — pode estar em risco.

"O Egipto é um dos nossos mais antigos aliados no Médio Oriente", disse Murphy nesta terça-feira. "A ser verdade que Sisi está a fabricar rockets em segredo para fornecer à Rússia, teremos de fazer uma avaliação séria sobre o estado das nossas relações."

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