Preços continuam a subir, mas inflação homóloga recua para 7,4% em Março

Efeito base da guerra conduz à redução já esperada da taxa de inflação homóloga em Março. Ainda assim, Portugal foi o país da zona euro onde os preços mais subiram face a Fevereiro.

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Preços dos combustíveis atingiram máximos nos meses a seguir ao arranque da guerra na Ucrânia Paulo Pimenta

No primeiro mês em que a comparação dos preços é feita com um período em que já foi acentuado o impacto da guerra na Ucrânia, a taxa de inflação homóloga em Portugal recuou, tal como era esperado. A tendência de subida forte dos preços, no entanto, manteve-se na generalidade dos bens e serviços, excepto dos energéticos, e foi mais forte do que nos outros países da zona euro.

De acordo com os dados publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os preços dos bens e serviços em Portugal subiram 1,7% em média durante o presente mês de Março, bem mais do que os 0,3% registados em Fevereiro. Mas, mesmo assim, apesar desta nova aceleração dos preços, a taxa de inflação homóloga – que representa a variação de preços face ao mesmo mês do ano passado e que é o indicador habitualmente mais seguido para avaliar a inflação – diminuiu de 8,2% em Fevereiro para 7,4% em Março.

O recuo deste indicador já era, contudo, largamente antecipado. A razão é simples: ao passar a calcular-se a variação dos preços anual com o mês de Março de 2022, passa a sentir-se um efeito base provocado pela guerra. Foi em Março do ano passado que os preços de vários bens, em particular os energéticos, dispararam de forma muito significativa (inflação mensal de 2,5%, o valor mais alto desde os anos 1990) e, por isso, a comparação que agora é feita com os preços actuais revela variações homólogas mais baixas.

É aliás evidente nos números publicados pelo INE o contributo que os bens energéticos deram para este resultado, já que passaram em Março deste ano a ficar a um nível mais baixo do que aquele que registaram em Março do ano passado, no início da guerra na Ucrânia. Em Março, os preços dos produtos energéticos caíram 0,4% e a variação face ao mesmo mês do ano passado evoluiu de 1,9% em Fevereiro, para -4,4%.

Já nos bens alimentares, que mês após mês têm reforçado o seu papel como principais motores das pressões inflacionistas em Portugal, os sinais de um abrandamento dos preços são quase inexistentes. De acordo com o INE, os preços dos produtos alimentares não transformados voltaram, tal como tinha acontecido em Fevereiro, a subir 1,5% durante o mês de Março. E a variação homóloga, face a Março do ano passado, manteve-se a um nível extremamente alto, 19,3%, com um ligeiro abrandamento (provocado pelo efeito base) face aos 20,1% de Fevereiro.

É ainda evidente o alastramento das subidas de preços às restantes categorias de bens e serviços, com uma subida mensal de 2% dos preços dos produtos, excluindo alimentos não transformados e energia. Neste caso, a variação homóloga dos preços passou de 7,2% para 7%.

Maior subida mensal na zona euro

Mais preocupante ainda para Portugal é o facto de, em comparação com os outros países da zona euro, a evolução dos preços em Março ter sido particularmente desfavorável.

Usando como indicador o índice de preços harmonizado (o indicador de inflação que é comparável entre todos os países da zona euro), a inflação mensal em Portugal foi de 2% e a taxa de inflação homóloga passou de 8,6% em Fevereiro para 8% em Março.

No resto da zona euro, os preços subiram em Março, mas de forma muito mais moderada: 0,9%. E o recuo da taxa de inflação homóloga foi muito mais significativo, de 8,5% para 6,9%.

Portugal passa assim a ter uma taxa de inflação homóloga que fica 1,1 pontos percentuais acima da média da zona euro, o que é a maior diferença registada desde que a Europa entrou na presente crise inflacionista.

E de forma mais mais clara, a subida de preços de 2% registada em Portugal no decorrer do presente mês de Março é, por uma margem significativa, a mais alta entre os 20 países da zona euro. O segundo país a apresentar uma inflação mensal mais alta em Março foi a Grécia, com 1,6%.

No que diz respeito à taxa de inflação homóloga, os países bálticos continuam, apesar dos recuos neste indicador registados este mês, a apresentar os valores mais altos, com a Letónia a liderar com 17,3% (20,1% em Fevereiro).

No pólo oposto, está a Espanha, que, apesar da subida de 1,1% dos preços no decorrer de Março, viu a sua taxa de inflação homóloga recuar de 6% em Fevereiro para 3,1% em Março. Apenas Malta, com 3%, tem um valor mais baixo entre todos os países da zona euro.

Entre as maiores economias, a Alemanha apresentou um recuo da inflação homóloga de 9,3% para 7,8%, a França passou de 7,3% para 6,6% e a Itália, de 9,8% para 8,2%.

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