Num ano de invasão, terão morrido entre 60 mil e 70 mil russos na Ucrânia

Número de militares russos mortos na Ucrânia supera todos os conflitos em que a Rússia ou a União Soviética se envolveram desde a II Guerra Mundial, segundo um novo estudo.

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O número total de baixas russas, que inclui militares mortos, feridos e desaparecidos, estará entre as 200 mil e 250 mil EPA/SERGEY KOZLOV

Ao fim de um ano de invasão, as forças russas terão perdido mais soldados na Ucrânia do que em todos os conflitos que envolveram a Rússia e a União Soviética desde o fim da II Guerra Mundial todos somados, de acordo com um novo estudo.

As contabilizações de baixas militares nos dois lados da guerra na Ucrânia têm sido factor de intensa especulação, uma vez que tanto as autoridades russas como as ucranianas deixaram de fornecer balanços oficiais. No entanto, a entrada do conflito numa fase de guerra de atrito há já vários meses permite concluir que o número de militares mortos pode ser bastante elevado.

Essa é uma das conclusões do estudo Ukrainian Innovation in a War of Attrition (Inovação ucraniana numa guerra de atrito), do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla original), um think-tank norte-americano especializado em geopolítica. “A Ucrânia e a Rússia construíram um sistema de trincheiras e têm feito uso frequente de artilharia. A Rússia tem recorrido a ondas de ataques humanos contra posições fixas ucranianas, incluindo assaltos frontais que tentam conquistar terreno através do simples peso dos números e não por um posicionamento superior ou pelo uso efectivo de combinações de armamento”, observam os autores do relatório.

O uso intensivo de um grande dispositivo de soldados leva invariavelmente a um número elevado de baixas. O estudo estima que no último ano tenham morrido entre 60 mil e 70 mil militares russos na Ucrânia, incluindo tanto os que pertencem às forças regulares do Exército como os que integravam as fileiras dos grupos rebeldes das repúblicas populares de Lugansk e Donetsk, bem como os membros do Grupo Wagner, a empresa de segurança privada com intensas ligações ao Kremlin. O número total de baixas russas, que inclui militares mortos, feridos e desaparecidos, estará entre as 200 mil e as 250 mil, calculam os analistas.

Este valor ultrapassa o número de militares russos em todos os conflitos que envolveram a Rússia e a União Soviética desde o final da II Guerra Mundial, destacando-se a invasão do Afeganistão, entre 1979 e 1989, em que morreram entre 14 mil e 16 mil soviéticos, e as duas guerras na Tchetchénia, entre 1994 e 1996, e entre 1999 e 2009, em que morreram entre 12 mil e 25 mil militares russos. Os autores também incluíram nos cálculos os cerca de sete mil mortos durante os oito anos de guerra no Donbass, embora a Rússia negue participação directa nesse conflito.

Muitas baixas e pouco progresso

“A Rússia tem sofrido um enorme número de baixas a troco de pequenas quantidades de território ganho”, observa o estudo, que descreve o método usado pelos estrategas russos durante a fase actual de impasse na linha da frente. “O Exército russo tem utilizado três vagas de combatentes em algumas áreas: uma primeira linha de membros de empresas de segurança e recrutas inexperientes, cujas taxas de morte são frequentemente elevadas; uma segunda linha de substitutos; e uma terceira linha de forças russas relativamente competentes”, explicam. Apesar da enorme factura humana paga nos últimos meses, as forças ao serviço do Kremlin conseguiram controlar apenas mil quilómetros quadrados desde Setembro.

O relatório do CSIS admite que o cálculo de mortes e baixas durante um conflito é uma tarefa “notoriamente difícil, em parte porque todos os lados têm incentivos para manipular esses dados e também por causa das dificuldades inerentes à colecta de informação durante fases activas de combate”.

Ao longo dos meses têm surgido várias estimativas sobre o número de militares mortos na guerra da Ucrânia. Em meados de Fevereiro, as autoridades de Kiev apontavam para cerca de 150 mil militares russos mortos desde o início da invasão, um número consistente com as estimativas dos serviços de inteligência dos EUA, que em Novembro apontavam para mais de cem mil militares mortos e feridos em cada um dos lados do conflito.

Um trabalho de investigação conjunto entre o site independente Mediazona e o serviço russo da BBC concluiu que pelo menos 15 mil militares russos foram mortos no primeiro ano da invasão, recorrendo a uma análise abrangente de relatos na comunicação social, nas redes sociais e comunicados oficiais.

Apesar das contabilizações divergentes, o que todas as análises dão como certa é a aceleração crescente do número de mortes nos dois lados nos últimos meses, em que os combates em torno da cidade de Bakhmut têm sido intensos, embora de reduzidos avanços.

A última contabilização oficial feita pelo Governo russo remonta a Setembro e apontava para 5937 membros das Forças Armadas mortos na Ucrânia, segundo o Moscow Times.

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