Hackers interrompem discurso do Presidente no 44.º aniversário da revolução iraniana

Ebrahim Raisi apontou o dedo aos “inimigos” do Irão e lançou um apelo à “juventude iludida” que tem protestado contra o regime.

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Presidente iraniano fez um discurso comemorativo em Teerão EPA/Iranian presidential office HO

A República Islâmica do Irão comemorou este sábado o 44.º aniversário da revolução de 1979 com comícios organizados pelo Estado e com um discurso de Ebrahim Raisi à nação. A transmissão televisiva da intervenção do Presidente iraniano foi, no entanto, brevemente interrompida, devido a um ataque de piratas informáticos.

Durante cerca de um minuto, as imagens de Raisi na televisão estatal foram substituídas por uma gravação em que surgia o símbolo de um grupo de hackers anti-regime que se auto-intitula Edalat Ali (Justiça para Ali).

Depois, noticia a Reuters, uma pessoa com o rosto tapado gritou “morte à República Islâmica”, apelou à população para levantar as suas poupanças dos bancos estatais e pediu uma participação massiva nos protestos contra o Governo, previstos para o próximo dia 16.

No seu discurso — muito influenciado pelo ambiente de protestos e de violência que tem marcado os últimos meses no Irão, na sequência da morte da jovem Mahsa Amini, em Setembro, depois de ter sido agredida pela “polícia da moralidade” por estar a usar o véu islâmico (hijab) de forma “incorrecta” —, Raisi apelou à “juventude iludida” para se arrepender, de forma a receber o perdão do líder supremo iraniano.

Perante uma multidão reunida na praça Azadi, em Teerão, o Presidente respondeu aos gritos de “morte à América” e “morte a Israel”. “Aos nossos inimigos digo isto: querem ouvir o que diz o povo? Este é o grande povo do Irão.”

“Aqueles que foram enganados pelo inimigo sabem agora que o problema do inimigo não são as mulheres, nem a vida, nem a liberdade, nem os direitos humanos”, afirmou, citado pela Al-Jazira, referindo-se a um dos slogans dos protestos (“mulher, vida, liberdade”). “O inimigo quer roubar a independência e a vida tranquila da nação iraniana.”

Segundo o grupo de defesa dos direitos humanos HRANA, já morreram mais de 500 manifestantes, incluindo 71 menores, por causa da repressão das forças de segurança do regime. O número aproximado de detidos já superou os 19 mil.

As celebrações do aniversário da revolução islâmica — que pôs fim à monarquia e estabeleceu um regime autoritário assente na interpretação restritiva da lei islâmica, segundo o entendimento da corrente xiita do islão — incluíram ainda exibição de equipamento militar, nomeadamente veículos de defesa anti-aérea, um drone e um cruzador anti-submarinos.

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