Milhares marcham em Lima, mas Boluarte não cede à pressão

Ao fim de seis semanas de contestação, os protestos contra a Presidente interina do Peru chegaram à capital. Não houve mortos, mas não deixou de haver violência.

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Edifício no centro de Lima em chamas durante manifestação ALESSANDRO CINQUE / Reuters
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Cartaz de contestação à Presidente interina do Peru, Dina Boluarte EPA/Paolo Aguilar
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Edifício no centro de Lima em chamas Reuters/SEBASTIAN CASTANEDA
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Milhares marcharam em Lima em protesto contra o Governo interino Reuters/SEBASTIAN CASTANEDA
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Milhares marcharam em Lima em protesto contra o Governo interino Reuters/SEBASTIAN CASTANEDA

Tal como esperado, a grande manifestação antigovernamental em Lima nesta quinta-feira ficou marcada por violentos confrontos entre activistas e as forças de segurança, culminando no incêndio de um edifício no centro da capital peruana. Apesar da pressão das ruas, a Presidente interina, Dina Boluarte, continua a rejeitar a hipótese de se demitir.

Muito estava em jogo na jornada de contestação na capital peruana. Pela primeira vez desde que se iniciaram os protestos contra a destituição e detenção do ex-Presidente Pedro Castillo, a 7 de Dezembro, a grande variedade de grupos de indígenas, produtores rurais e activistas políticos das regiões mais tumultuadas conseguiu unir-se para uma única acção. O objectivo era mostrar a magnitude do desafio para a elite política de Lima e marchar até ao Congresso.

Para o Governo de Boluarte, principal foco da contestação desde que tomou posse, o principal objectivo era mostrar uma frente unida e, acima de tudo, evitar novas cenas de repressão violenta como as que se têm repetido há mais de um mês – já morreram mais de 50 pessoas em confrontos com a polícia ou por causa dos bloqueios rodoviários. Foi mobilizado um forte contingente policial, com mais de 11 mil efectivos que cercaram o centro de Lima.

Ao contrário do que aconteceu nos protestos nas regiões rurais nas últimas semanas, as forças de segurança não recorreram a armas letais para reprimir a manifestação, segundo o El País. Ainda assim, houve confrontos entre manifestantes e agentes da polícia, resultando num número indeterminado de feridos.

A acção de protesto terminou quando, já perto do Congresso, um incêndio deflagrou num edifício, que acabou por ser quase totalmente consumido pelas chamas. Apesar da grande dimensão do incêndio, não houve feridos. Algumas testemunhas dizem que o fogo teve origem no lançamento de uma granada de gás lacrimogéneo, mas o Governo desmentiu essa informação.

As palavras de ordem da manifestação dividiam-se entre os apelos à demissão de Dina Boluarte e as acusações à polícia pela extrema violência usada na repressão dos protestos.

Mas se havia a expectativa de que a marcha no coração político da capital pudesse aumentar a pressão sobre o Governo, a Presidente interina apostou em manter uma postura de desafio, acusando os manifestantes de quererem “destruir o Estado de direito” e de “gerar caos e desordem”, num discurso transmitido pela televisão ao início da noite.

Boluarte garantiu ainda que o seu Governo está “firme e mais unido do que nunca”, afastando qualquer possibilidade de se demitir ou marcar eleições para este ano, como exigem os manifestantes.

Enquanto decorria a grande manifestação de Lima, os tumultos continuaram nas regiões rurais do Sul do país, que têm sido o epicentro da contestação. Em Arequipa, um homem de 30 anos morreu depois de ter sido baleado na barriga, elevando para 55 o número de mortos decorrentes dos protestos.

Na origem da mais recente crise no país sul-americano está a destituição e detenção de Castillo que, de forma surpreendente, havia anunciado a dissolução do Congresso e a formação de um governo de gestão até novas eleições. A iniciativa do Presidente que estava no cargo há ano e meio foi encarada como uma tentativa de golpe de Estado até mesmo por alguns aliados e Castillo foi detido por rebelião.

De imediato foram organizadas greves e manifestações por parte dos sectores populares, que viam em Castillo o primeiro Presidente da história recente empenhado em adoptar medidas de combate à pobreza e ao racismo no Peru, mas que acabou por ficar sem margem de manobra perante um Congresso hostil. Desde o início, as principais reivindicações concentram-se na demissão imediata de Boluarte e na marcação de eleições o mais rapidamente possível.

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