Prevista manifestação maciça em Lima contra o Governo interino

Em pouco mais de um mês já morreram 53 pessoas durante a onda de contestação. Na capital peruana, milhares de pessoas foram recebidas com gás lacrimogéneo.

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Milhares de habitantes das regiões rurais estão a dirigir-se para Lima para participar numa grande manifestação Reuters/STRINGER

Lima prepara-se para uma das maiores manifestações na sua história recente, esta quinta-feira, quando milhares e milhares de pessoas de todo o país marcharem pelas ruas de Lima em protesto contra a destituição e prisão do ex-Presidente Pedro Castillo. Três pessoas morreram na quarta-feira, elevando o número de vítimas mortais na onda de contestação para 53.

Os protestos contra a detenção de Castillo, e que também exigem a demissão da Presidente interina Dina Boluarte e a marcação imediata de eleições, têm estado concentrados nas áreas rurais e indígenas, mas o objectivo é fazer da capital um novo epicentro de contestação.

“Todos os dias chegam mais pessoas do Sul para forçar o Estado a respeitar os nossos direitos”, disse à BBC um motorista que viajou de Cusco, no Sudeste, para Lima. “Os nossos soldados e a polícia, em vez de nos defenderem, estão a matar-nos. Como podem matar-nos por estarmos a defender o nosso país?”, questionou.

Na quarta-feira, a polícia recorreu a gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão de manifestantes que chegavam à capital. As autoridades montaram um enorme esquema de segurança para tentar prevenir distúrbios, mas teme-se que os confrontos sejam inevitáveis.

A violência tem marcado os protestos. Em pouco mais de um mês já morreram 53 pessoas, a maioria das quais em confrontos com as forças de segurança, e 722 manifestantes ficaram feridos, para além de 442 agentes policiais.

Na quarta-feira, uma mulher de 35 anos foi morta depois de ter sido atingida por uma bala em Macusani, capital da província de Carabaya, no Sudeste do país. Por causa do corte de estradas, também morreram um bebé prematuro de 28 semanas e uma mulher de 51 anos que sofreu uma paragem cardio-respiratória e não recebeu cuidados médicos, segundo o El País.

A crise foi desencadeada pela decisão de Castillo, a 7 de Dezembro, de dissolver o Congresso e passar a governar por decreto. Nem os deputados do partido pelo qual foi eleito apoiaram a iniciativa, deixando o Presidente totalmente isolado: em poucas horas foi destituído e detido por rebelião. Desde então, Castillo, que estava no cargo desde Julho de 2021, tem permanecido em prisão preventiva enquanto aguarda julgamento.

A vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu a chefia de Estado interinamente, mas foi contestada desde o primeiro momento. Várias greves e protestos foram organizados nas províncias rurais, movidas sobretudo pelo sentimento de injustiça contra um Presidente popular junto dos sectores mais pobres do país. Castillo era um professor primário e dirigente sindical que, quando foi eleito, prometeu adoptar medidas de combate à pobreza e ao racismo.

Porém, rapidamente se viu sem margem para governar, enfrentando um Congresso muito hostil que se mostrou empenhado em derrubá-lo: foi alvo de duas tentativas de impeachment e preparava-se para mais uma quando dissolveu a câmara legislativa. Nos últimos anos, o Peru tem-se mostrado um país ingovernável, sobretudo pela forma frequente com que o Congresso tem recorrido à destituição presidencial. Em cinco anos, Boluarte é já a sexta chefe de Estado do país sul-americano.

Os manifestantes exigem a demissão de Boluarte e a marcação imediata de eleições antecipadas. A Presidente interina já anunciou eleições, mas apenas para 2024, algo que não é considerado aceitável pela generalidade dos apoiantes de Castillo.

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