Ucrânia desmente conquista russa de Soledar, onde “já ninguém conta os mortos”

Kiev admite “situação complicada” na cidade mineira mas diz que continua a resistir num campo de batalha onde a ferocidade dos combates é comparada à II Guerra Mundial.

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Soldado ucraniano dispara uma arma antiaérea na região de Bakhmut Reuters/CLODAGH KILCOYNE

O grupo Wagner reclamou o controlo de Soledar, a Ucrânia diz que continua a resistir e Moscovo fala numa “dinâmica positiva em andamento”. Numa altura em a situação na pequena cidade mineira no Leste da Ucrânia não é clara, a única certeza está na intensidade dos combates que grassam na localidade situada a poucos quilómetros da também disputada Bakhmut, na província de Donetsk.

Depois de Ievgeni Prigojin, o presidente do grupo Wagner, ter anunciado na terça-feira à noite que as suas unidades tinham assumido “o controlo de todo o território de Soledar”, os militares ucranianos desmentiram esta quarta-feira a captura da cidade e compararam a ferocidade dos combates em curso com a II Guerra Mundial.

“A cidade não está sob o controlo da Federação Russa. Há batalhas ferozes em curso”, afirmou Serhii Cherevatyi, porta-voz do comando militar ucraniano no Leste do país, admitindo que a situação no terreno está “complicada”.

“A intensidade das batalhas perto de Bakhmut pode ser comparada com a II Guerra Mundial”, disse Cherevatyi, acrescentando que o objectivo imediato das forças ucranianas é “estabilizar a situação com o máximo impacto para o inimigo e perdas mínimas para a Ucrânia”.

As Forças Armadas ucranianas questionaram, também, a autenticidade de uma série de fotografias divulgadas pela Rússia e que confirmariam a captura de Soledar pela Rússia.

“Parece que a localização que eles mostram não corresponde à realidade e que não são realmente as salinas de Soledar que aparecem nas imagens”, apontou Cherevatyi, afirmando que, com esta informação, Moscovo poderá estar a tentar justificar as “elevadas baixas entre os prisioneiros”, uma alusão aos reclusos recrutados para a guerra na Ucrânia pelo grupo Wagner.

Em resposta às alegações russas, os militares ucranianos divulgaram uma série de fotografias em que mostram as minas em questão sem qualquer presença de militares russos, ao contrário do que o líder do grupo Wagner anunciou.

“Parece que não é verdade que os soldados russos estejam nas minas de Soledar, que foi e será sempre ucraniana”, disse o Departamento de Comunicações Estratégicas das Forças Armadas ucranianas.

“Dinâmica positiva”

Menos categórico do que o líder do grupo paramilitar cujos mercenários formam a maior fatia dos combatentes russos na região de Bakhmut, Moscovo disse apenas esta quarta-feira que as suas forças estavam a fazer progressos nas operações militares em redor de Soledar.

“Não vamos apressar-nos, vamos aguardar pelos pronunciamentos oficiais. Há uma dinâmica positiva em andamento”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reconhecendo, no entanto, o elevado custo da operação em termos de baixas. “Embora os sucessos tácticos também sejam muito importantes, eles têm um preço alto, à custa do fantástico heroísmo dos nossos combatentes e, portanto, este é mais um motivo de orgulho para os nossos rapazes no terreno”, disse Peskov.

O Ministério da Defesa da Rússia informou, por seu lado, que unidades aerotransportadas cercaram Soledar pelo Norte e pelo Sul, ao mesmo tempo que a força aérea atingia posições ucranianas na cidade.

A ferocidade e a incerteza da batalha na cidade onde estão situadas minas de sal foram confirmadas por um soldado ucraniano ouvido pela CNN, admitindo que a situação é, nesta altura, “crítica” e já “ninguém conta os mortos”.

“Ninguém diz quantos mortos e feridos existem porque ninguém sabe ao certo. Nem uma única pessoa. Nem no quartel-general nem em outro lugar qualquer. As posições são tomadas e retomadas constantemente. O que hoje era a nossa casa é, no dia seguinte, a casa do [grupo] Wagner”, disse o militar ucraniano, que a CNN identificou como pertencendo à 46ª brigada móvel aérea.

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