Diogo Ayres-de-Campos: “Encerramento rotativo de maternidades não pode ser solução definitiva”

O coordenador da comissão que fez o plano para as maternidades ainda durante o mandato de Marta Temido diz que o modelo de Fernando Araújo “não é defensável num país europeu”.

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Diogo Ayres-de-Campos coordenou a comissão de acompanhamento de resposta em urgência de ginecologia Nuno Ferreira Santos

O director do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Diogo Ayres-de-Campos, que coordenou a comissão de acompanhamento de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e bloco de partos, acredita que o actual plano de encerramento rotativo de urgências de ginecologia e obstetrícia a partir da altura do Natal deve ser uma "solução temporária". Em entrevista à SIC Notícias, na manhã desta sexta-feira, Ayres-de-Campos recordou que, perante a escassez de recursos humanos, esta é a "solução possível".

"Isto é uma solução temporária, que neste momento é melhor do que a que tínhamos anteriormente, que era a de encerramento de cada vez que tínhamos dificuldade num hospital, mas sem haver coordenação entre hospitais. Esta coordenação, neste aspecto, é positiva, porque permite às utentes saberem com alguma antecipação para onde se podem deslocar", referiu.

Para o médico, a longo prazo, o cenário terá de ser outro. "Pelo facto de o serviço de obstetrícia incluir blocos de parto, onde estão senhoras em trabalho de parto, não é compatível com encerramentos, porque depois, a certa altura, quando se vai fazer o encerramento, temos uma senhora que está em trabalho de parto e a meio temos de fazer uma transferência", justificou.

Questionado sobre se o plano "Nascer em segurança no SNS" é uma medida paliativa, como a Federação Nacional de Médicos (FNAM) defendeu, Ayres-de-Campos disse que não será isso, uma vez que é uma melhoria em relação à situação anterior. "Acho que [o plano] permite alguma estabilidade e alguma previsibilidade, o que é melhor do que o que tínhamos."

"Não podemos é esperar que isto seja a solução definitiva, a solução definitiva não pode ser o encerramento programado, rotativo de maternidades. Não é uma solução defensável num país europeu", sublinhou ainda.

Por outro lado, o médico defendeu que "é preciso ir à raiz do problema". "Para fazer face à ausência de resposta de várias maternidades na região Sul do país, é melhor ter este planeamento do que não ter planeamento. A longo prazo, não se pode manter assim", explicou, ao mesmo tempo que lembrou que "as equipas, sobretudo as médicas, estão muito reduzidas".

"Quando há um convite para os médicos de obstetrícia e ginecologia irem trabalhar para a medicina privada, a remuneração é de tal forma diferente, que é muito difícil manter as pessoas, mesmo que sejam pessoas com grandes convicções em relação ao SNS [Serviço Nacional de Saúde], pois não não se consegue dar alternativas que, neste mercado, sejam boas alternativas", disse.

A direcção executiva do SNS preparou um plano para organizar a resposta das urgências de ginecologia e obstetrícia dos hospitais de Lisboa e Vale do Tejo no período do Natal e passagem de ano, e ainda ao longo do primeiro trimestre de 2023, pondo os serviços a partilhar recursos e a funcionar de forma rotativa até ao final do primeiro trimestre de 2023.

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