Apesar das sanções, Rússia usou na Ucrânia mísseis fabricados há poucos meses

Projectéis dependentes de tecnologia norte-americana e europeia foram fabricados no Verão e já depois de Setembro. As sanções estão a ser contornadas, o stock russo é curto - ou ambas?

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Os investigadores analisaram fragmentos de mísseis que caíram em Kiev em Junho, Outubro e Novembro NATIONAL POLICE OF UKRAINE/Reuters

Alguns mísseis que a Rússia usou para bombardear a Ucrânia há duas semanas foram construídos há poucos meses, o que parece indicar que o país está a conseguir obter a tecnologia necessária apesar das sanções ocidentais em vigor.

Os investigadores do Conflict Armament Research (CAR), empresa britânica que se dedica ao estudo de armas, analisaram fragmentos de mísseis que caíram em Kiev a 23 de Novembro e concluíram que dois são de produção muito recente: um foi construído no Verão e outro já depois de Setembro.

A interpretação de números de série que constam nesses pedaços permitiu constatar a sua data de fabrico, explica o CAR num relatório tornado público na segunda-feira. Os analistas também examinaram fragmentos de mísseis que atingiram a capital ucraniana em Junho e Outubro e dizem que estes foram construídos em 2018 e 2019.

Os investigadores garantem que estes mísseis de cruzeiro (Kh-101) “são altamente dependentes de componentes e tecnologia produzidas por empresas sediadas nos Estados Unidos e na Europa”. Assim, este relatório “demonstra que a Federação Russa ainda é capaz de produzir armas guiadas”, “apesar das sanções impostas a seguir à sua invasão da Ucrânia”.

Por outro lado, escrevem, “o uso de armas guiadas apenas dois meses depois da sua produção pode ser sintomático de problemas de stock”.

Damien Spleeters, que liderou a equipa de investigação que se deslocou a Kiev, disse ao The New York Times que não é possível aferir se a Rússia está ou não com problemas de armamento. “Fazem-se alegações dessas desde Abril, por isso, apenas dizemos que o facto de estes mísseis terem sido produzidos tão recentemente pode ser um sinal disso, mas não é uma certeza.”

Os analistas chegaram a Kiev exactamente num dia, 23 de Novembro, em que houve bombardeamentos russos à capital. O secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, afirmou depois que seria difícil para a Rússia produzir novos mísseis com rapidez “por causa das restrições comerciais sobre microchips e outro tipo de artigos”.

O ataque generalizado de há duas semanas foi um dos que provocaram danos graves no sistema energético da Ucrânia e deixou mais de metade de Kiev sem electricidade, aquecimento e água.

O país, que sofreu uma nova vaga de bombardeamentos esta segunda-feira, continua a braços com grandes dificuldades para garantir serviços básicos. O Ministério da Saúde pediu esta terça-feira às autoridades regionais que suspendam as cirurgias não urgentes para poupar energia.

Apesar de a Ucrânia ter garantido que conseguiu abater 60 mísseis antes de estes acertarem nos alvos (a Rússia diz que atingiu com sucesso 17 locais), o mais recente ataque danificou instalações eléctricas nas regiões de Kiev, Vinnitsia e Odessa. As autoridades tinham previsto trocar os apagões de emergência prolongados por cortes mais localizados e reduzidos, mas viram-se novamente obrigadas a racionar o fornecimento de electricidade de forma generalizada.

O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmihal, diz que 35% da estrutura eléctrica nacional está danificada e que ainda vai demorar até estarem repostos os níveis normais de abastecimento.

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