Selecção tem “bomba-relógio” para desactivar

Cristiano Ronaldo inicia campanha para o Qatar 2022 sob pressão anormalmente alta, depois das declarações sobre o United.

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Cristiano Ronaldo no treino da selecção EPA/MIGUEL A. LOPES

A selecção nacional iniciou a campanha decisiva rumo ao Qatar 2022 ainda a tentar decifrar a melhor forma de gerir e lidar com os estilhaços da última entrevista de Cristiano Ronaldo, que se apresentou um pouco mais aliviado após um “desabafo” explosivo.

Na hora de receber o grupo e blindar os jogadores face às habituais distracções externas, etapa essencial para assegurar a concentração necessária para atacar o grupo H do Mundial, Fernando Santos foi confrontado com um arranque insólito e turbulento, a exigir uma abordagem prudente.

O aparentemente irreversível desenterrar do machado de guerra entre Ronaldo e o Manchester United ameaça impactar de forma indelével a campanha lusa no próximo Mundial, podendo até tornar-se num fardo difícil de suportar caso o “capitão” não arrepie caminho no regresso aos golos por Portugal, que lhe escapam desde o hat-trick ao Luxemburgo, há mais de um ano. Foi um jogo, de resto, em que assinou metade dos golos obtidos em toda a fase de qualificação, que implicou a disputa de nove jogos.

Desde então, com a camisola da selecção, o melhor marcador da fase final do Campeonato da Europa 2020 apresenta um registo de quatro partidas em branco na qualificação para o Qatar, frente a República da Irlanda, Sérvia, Turquia e Macedónia do Norte. E só na Liga das Nações, frente à Suíça, Ronaldo quebrou o gelo com um bis em Alvalade.

Agora, a poucas horas do teste final (quinta-feira, às 18h45, em Alvalade), frente à selecção da Nigéria, treinada pelo português José Peseiro, Ronaldo terá a primeira oportunidade para, longe das polémicas do United, apurar a forma e validar os motivos da revolta que o levaram ao extremar de posições no clube inglês.

Sem ignorar os efeitos que venham a resultar das declarações de Ronaldo — a entrevista terá novos e imprevisíveis capítulos, já que o clube promete tomar posição “assim que se estabelecerem todos os factos” —, um dado é incontornável: Cristiano Ronaldo estará, mais do que nunca, sujeito a uma pressão mais próxima de esmagar do que de produzir diamantes.

A começar pela pressão que o próprio avançado não deixará de impor a si mesmo e que, atendendo ao nível de perfeccionismo que treinadores e companheiros lhe creditam, poderá, tranquilamente, sobrepor-se à já esperada de ter de encarar o Qatar como o seu último Mundial.

Realidade demasiado cruel, especialmente num ano em que os números não batem certo e se revelam anormalmente escassos para as expectativas geradas pelo melhor marcador da história das selecções mundiais, com 117 golos em 191 jogos.

Com um golo na presente edição da Premier League e dois na Liga Europa (ambos frente aos moldavos do Sheriff), o futuro próximo de Ronaldo dependerá muito do apoio que encontrará na selecção.

Na Cidade do Futebol, apesar de Fernando Santos não ter levado ao relvado (pelo menos no período aberto aos media) uma boa dezena dos 26 convocados, Cristiano Ronaldo não se refugiou no ginásio, assomando em campo mesmo sabendo que concentraria todas as atenções.

Ainda sem reacções oficiais — jogadores como João Palhinha procuraram afastar-se da discussão —, as primeiras e inevitáveis perguntas surgirão na primeira conferência de imprensa, a abrir o segundo dia de treinos da equipa nacional, com os companheiros de Cristiano a terem de gerir mais um tema complicado, a somar ao dos direitos humanos que o Qatar suscita.

Cristiano Ronaldo tinha avisado que, oportunamente, viria a terreiro defender a sua dama e expor as incontáveis notícias sobre a relação com os “red devils”. O timing escolhido foi, mais do que a pensar no início da contagem decrescente para o Campeonato do Mundo, gerido em função do hiato de um mês que medeia a interrupção e o reatamento da Liga inglesa. Período em que Cristiano Ronaldo não terá de lidar directamente com a bomba-relógio despejada no colo dos responsáveis do Manchester United.

Isto, independentemente de o jogador ou as pessoas que lhe são mais próximas virem a ser confrontadas com as esperadas medidas e sanções ainda a anunciar pelo emblema britânico, que, nesta altura, poderá estar mais do que nunca disposto a abrir as portas de saída ao avançado português. Resta saber a que preço, já que Ronaldo tem contrato até Junho de 2023.

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