Imagem de Ronaldo pode sofrer após declarações explosivas? Tudo depende do Mundial

Internacional português criticou abertamente o treinador e responsáveis do Manchester United. Que efeitos pode ter esta entrevista “bombástica” na marca Cristiano Ronaldo?

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Ronaldo festeja golo da selecção nacional Reuters/BERNADETT SZABO

Nas últimas duas décadas, Cristiano Ronaldo foi o epítome da dedicação, profissionalismo e garra. Em Manchester, Madrid ou Turim, os colegas de equipa eram unânimes quanto à ética de trabalho do internacional português: era o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. Nos últimos meses, a imagem construída desde a estreia precoce no Sporting e sustentada por dezenas de títulos e prémios individuais tem sido beliscada, com várias polémicas a marcar a segunda passagem do português pelo Manchester United. Detentor de uma das marcas mais valiosas do mundo, Ronaldo pode ser também afectado a nível de imagem e marketing?

Para Paulo Salgado, especialista em Comunicação no Desporto e professor na Universidade do Minho, Ronaldo apenas sairá com imagem reforçada desta situação se, durante o Mundial do Qatar, mostrar um nível exibicional que valide as críticas apontadas ao Manchester United.

“A marca Cristiano Ronaldo é tão consistente ao longo dos anos que, em princípio, os patrocinadores que estão com ele há décadas não o vão abandonar nesta altura e vão continuar a defender o ponto de vista do profissional inigualável que está a ser maltratado e merece estar descontente. É importante que esta narrativa passe. Daqui a uma semana temos os jogos do Mundial e o Ronaldo vai estar 100% focado na selecção nacional porque, para já, que se saiba, não terá alternativa [de clube]. Se ele fizer um grande Mundial, marcar muitos jogos e se apresentar no seu melhor, vai dar voz ao pensamento: ‘Realmente, ele tem razão’. Poderá jogar a favor dele”, explica Paulo Salgado.

Depois de meses recheados de frustrações e polémicas no Manchester United, Cristiano Ronaldo criticou publicamente treinador e dirigentes numa entrevista concedida ao jornalista Piers Morgan, causando uma enorme dor de cabeça aos responsáveis do clube inglês. O internacional diz que se sente “traído”, uma “ovelha negra” e que não tem respeito pelo treinador Erik ten Hag. O capitão da selecção nacional deve ter mesmo dado um passo definitivo em direcção à porta de saída, visto que as declarações públicas negativas podem ter infringido cláusulas do contrato com os red devils.

Daniel Sá, especialista em marketing desportivo e director-executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), partilha da opinião de Paulo Salgado quanto à importância do Campeonato do Mundo para o futuro de Ronaldo. Embora admita alguma perplexidade com a atitude do capitão dos red devils, Daniel Sá relembra que esta ruptura pode ser facilmente esquecida se Cristiano se conseguir reinventar dentro das quatro linhas.

“Não é só a atitude da entrevista, ele tem somado episódios nos últimos quatro meses que não são compatíveis com os 20 anos anteriores. São suficientes para destruir a marca Ronaldo? Nem de longe nem de perto! Todos percebemos que estes dramas, de um momento para o outro, podem deixar de existir. Imaginemos este cenário: Ronaldo faz um grande Mundial, em Janeiro vai para outra equipa e começa a marcar golos. Daqui a três ou quatro meses, já ninguém se lembra disto. Na minha opinião, os últimos quatro meses abalam a marca CR7, mas não põem em causa os 20 anos de uma marca inacreditável”.

O responsável do IPAM alerta, contudo, para o risco de perda de visibilidade de Ronaldo, caso o United impeça uma saída e o castigue com meses a fio afastados do relvado. “Já estes quatro meses foram um desgaste para a marca e ele nem está à parte [do plantel]. Nesse caso, sim. Acho que a marca pode ficar danificada com algum carácter permanente”, reitera.

O clube não terá, alegadamente, tido conhecimento das declarações de Ronaldo até à publicação dos primeiros trechos da entrevista este domingo. A imprensa britânica noticia esta segunda-feira o desagrado do treinador e restante equipa técnica do Manchester United com a atitude do português, que integrará agora a selecção nacional para o Mundial do Qatar. Este afastamento é, na opinião de Paulo Salgado, o único ponto positivo para CR7 este momento, com o especialista a criticar a forma como foi gerida a comunicação do jogador nos últimos meses.

“Ele faz as declarações e agora vai para a concentração da selecção nacional e deixa ‘a bomba’ lá [em Manchester]. Para alguém que aprecia a carreira do Cristiano, parece-me que toda esta situação era evitável com outra comunicação e postura de ambas as partes. Foi algo que se extremou sem necessidade. A questão devia ter sido antecipada pelo Cristiano: a ausência dos treinos de pré-época, se queria ir para algum lado ou não. Ficou a ideia que ninguém o queria! Diz-se que, eventualmente, houve uma proposta para o Chelsea, mas a comunicação circula entre os diversos intervenientes. Manifestações públicas de muita emoção negativa normalmente geram impacto negativo. Mais vale ‘engolir em seco’ e preparar bem o que é dito”, resume.

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