O crime e as armas

Teresa de Sousa assina, a partir dos EUA, uma crónica diária até à próxima terça-feira, dia das eleições intercalares norte-americanas.

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O aumento da criminalidade, seja ele comprovado ou não pelas estatísticas, foi um dos temas centrais da campanha dos republicanos e, claramente, uma das suas vantagens eleitorais para as eleições intercalares de amanhã. O que choca um olhar europeu sobre este debate é que nunca, na argumentação da direita americana, este problema vem associado ao facto de haver na posse de civis mais armas do que o número de cidadãos norte-americanos.

O que para nós é uma relação directa e óbvia, para a maioria dos americanos é uma espécie de direito natural, expresso na Segunda Emenda da Constituição americana. Não lhes interessa que o texto fundador da República tenha sido escrito em 1787, quando as espingardas disparavam, não sei exactamente, mas talvez um tiro por minuto. Hoje, nas mãos de qualquer cidadão americano com mais de 18 anos, pode estar uma arma de guerra que dispara qualquer coisa como dez balas por segundo.

O seu primeiro argumento é que os cidadãos precisam de armas para se defender dos criminosos. O segundo é que não são as armas que matam, mas as pessoas. A simples ideia de que seria preferível que o acesso a armas fosse difícil tanto para os criminosos, como para os cidadãos que respeitam as leis não lhes passa pela cabeça. Como não conseguem retirar a conclusão óbvia do que aconteceu aqui, no Texas, em Maio passado, quando a polícia de Uvalde ficou à espera durante uma hora à porta da escola primária onde um assassino teve todo o tempo de que precisava para matar 19 crianças e dois professores. A polícia não entrou na escola porque teve medo.

Amanhã, também é este debate que vai estar presente nas urnas de voto. Citando um antigo governador democrata de Filadélfia, ao menos poder-se-ia limitar os carregadores das armas na posse de civis a, digamos, 12 balas.

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