Rússia bombardeia Mikolaiv e intensifica fuga de Kherson

O Governo russo incitou os habitantes de Kherson a saírem da cidade, perante o avanço do Exército ucraniano no Sul do país. No meio de uma “situação difícil” para as posições russas, um míssil e vários drones suicidas foram lançados na direcção da cidade de Mikolaiv, controlada pela Ucrânia.

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O ataque em Mikolaiv, neste domingo, não fez vítimas mortais EPA/HANNIBAL HANSCHKE

Um míssil lançado pelo Exército russo na direcção da cidade ucraniana de Mikolaiv, a poucas dezenas de quilómetros da linha da frente dos combates no Sul da Ucrânia, atingiu o topo de um edifício de habitação e provocou a queda de destroços sobre uma praça e outros edifícios no mesmo complexo. O ataque, que segundo as autoridades ucranianas não fez feridos nem mortos, é uma resposta da Rússia aos recentes avanços do Exército da Ucrânia na região.

“Depois do primeiro estrondo, eu tentei fugir do meu apartamento, mas a porta estava bloqueada”, disse Oleksandr Mezinov, de 50 anos, à agência Reuters. “Um ou dois minutos depois, houve outra explosão e a nossa porta foi projectada para dentro de casa.”

Segundo o governador da província de Mikolaiv, Vitaly Kim, o edifício foi atingido por um míssil russo S-300, num ataque que também envolveu drones suicidas — dispositivos preparados para explodirem com o impacto, e que já destruíram uma parte significativa da rede de energia ucraniana no último mês. Kim disse também, na sua conta no Telegram, que 14 drones russos foram abatidos, neste domingo, pelas forças ucranianas em Mikolaiv.

As autoridades russas dizem que as suas posições na região de Kherson — uma das cinco ocupadas pela Rússia no território ucraniano, e uma porta de entrada para a península da Crimeia — estão sob a ameaça do avanço ucraniano no Sul do país.

Segundo a Reuters, na última semana, cerca de 25 mil pessoas foram retiradas de Kherson para outras zonas ocupadas pelo Exército russo, num movimento que as autoridades ucranianas dizem ser uma operação de propaganda para assustar a população local.

“A situação é difícil, é fundamental que salvem as vossas vidas”, disse o ministro da Educação russo, Sergei Kravtsov, dirigindo-se à população de Kherson através do Telegram. “Mas não será por muito tempo. Não tenham dúvidas de que vão regressar.”

Também neste domingo, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu — a quem a ala mais nacionalista atribui grande parte da culpa pelos falhanços militares —, falou ao telefone com os seus congéneres dos Estados Unidos, de França e da Turquia.

Segundo um comunicado do ministério russo, Shoigu disse aos ministros francês e turco que a situação no terreno está “a agravar-se rapidamente”, e acusou a Ucrânia de se preparar para usar uma “bomba suja” — uma arma com explosivos convencionais e com material radioactivo.

O responsável não avançou informações concretas, e foi o próprio Presidente da Rússia, Vladimir Putin, quem já admitiu usar armas nucleares para defender o território russo.

Sobre a conversa com o secretário da Defesa dos EUA, Lord Austin — a segunda nos últimos três dias, depois de um silêncio de cinco meses —, nenhuma das partes avançou pormenores.

À margem dos combates no terreno, mais de um milhão de habitações na Ucrânia estão neste momento sem energia, a poucas semanas de um Inverno extremamente rigoroso.

Segundo Kyrylo Tymoshenko, um conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, os ataques russos podem deixar Kiev às escuras, e sem aquecimento, durante vários dias ou semanas.

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