Costa sobre pensões: “Era muito fácil fazer agora um aumento maior, mas depois não sabemos o que poderia acontecer”

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS esteve esta tarde em Leiria para lançar o novo ano político dos socialistas. António Costa prometeu “nervos de aço” para resolver uma inflação “que já não é só uma nota de rodapé”.

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António Costa falou este domingo na rentrée do PS, em Leiria LUSA/PAULO CUNHA

Numa altura em que, segundo o primeiro-ministro, a inflação “deixou de ser uma nota de rodapé nos discursos”, António Costa respondeu às críticas da oposição e às acusações de que os aumentos de pensões anunciados pelo Governo são “truques” para explicar a estratégia dos aumentos a dois tempos. “Era muito fácil fazer agora um aumento maior [das pensões], mas depois não sabemos o que poderia acontecer”, justificou o primeiro-ministro e secretário-geral do PS, durante um comício em Leiria, num encontro no Mercado Santana que juntou centenas de militantes socialistas para assinalar a rentrée do partido. Lembrando que os pensionistas “ainda recordam a dureza do passado”, o primeiro-ministro garantiu ainda que nunca tomará “nenhuma medida que ponha em causa a sustentabilidade da Segurança Social”.

António Costa destacou ainda que foi durante o Governo socialista que a sustentabilidade da Segurança Social foi alargada em 26 anos. “Conseguimos com isso prolongar o período do fundo de estabilização da Segurança Social e assim cumprir e honrar os pensionistas, bem como o pagamento das futuras pensões que todos os dias se estão a formar”, continuou. “Garantir essa sustentabilidade futura da Segurança Social é um contrato de confiança intergeracional”, vincou. “Nunca, em circunstância alguma, por muita pancada que a oposição me dê, eu tomarei qualquer medida que ponha em causa a sustentabilidade futura da Segurança Social”, prometeu em Leiria.

Mas há mais desafios além da sustentabilidade da Segurança Social. A inflação cresceu e, depois da resistência de António Costa em adoptar medidas de resposta directa à subida dos preços, o primeiro-ministro reconhece agora que a inflação é “o grande adversário” e “já não é só uma nota de rodapé em cada discurso”. “É um problema central que temos para enfrentar”, declarou. Mas prometeu “não baixar os braços” até porque, gracejou, também não se assustou “com o diabo”, numa alusão às críticas da oposição quando tomou posse o seu primeiro Governo.

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António Costa esteve esta tarde em Leiria para lançar o novo ano político dos socialistas

Não tivemos medo do diabo para virar a página da austeridade, também não é agora que baixamos os braços e desistimos dos nossos objectivos para fazer face a uma inflação que não víamos há mais de 30 anos”. A receita? “Nervos de aço e as medidas certas”. E Costa diz ter ambas. “Para termos contas certas não é preciso austeridade”, reiterou. Já antes, o autarca de Leiria, Gonçalo Lopes, tinha dito que tinha sido António Costa a provar que “a austeridade e o medo não são caminho”.

E, respondendo a quem disse que as medidas tardaram e que o aumento das pensões de 2024 é uma incerteza, Costa prometeu estabilidade: “Aquilo que damos hoje, não temos de tirar amanhã. Só agora tomamos estas medidas porque só agora temos a certeza que as podemos tomar e que serão cumpridas até ao final do ano”.

“Quando assumimos os compromissos assumimos com responsabilidade e não prometemos nunca aquilo que poderia ser um passo maior que a nossa perna”, explicou. “Foi por isso que podemos apresentar precisamente o mesmo Orçamento [do Estado] e ter cumprido aquilo que propusemos”, declarou.

E lembrou as medidas adoptadas pelo Governo, desde o controlo do preço dos combustíveis, ao travão nas rendas, que segundo António Costa gera uma poupança anual de 300 a 400 euros em Lisboa e Porto. Os números já tinham sido sinalizados por Pedro Nuno Santos, ministro das Infra-estruturas e da Habitação, que foi um dos ausentes da rentrée socialista. O primeiro-ministro defendeu ainda o pacote socialista face às propostas entregues pelo PSD no Parlamento, acusando os sociais-democratas de apresentarem propostas de apoio a rendimentos restritivas, por se destinarem à compra de bens alimentares.

“É a velha desconfiança que a direita tem sobre as pessoas e as famílias, julgando que vão gastar mal o dinheiro que recebem do Estado”, comentou. “Podemos dizer que vamos dar estes apoios sem pôr em causa nenhum dos objectivos orçamentais a que nos tínhamos proposto”, comprometeu-se, garantido que não iria haver congelamento de salários ou cortes de pensões, na educação ou no Serviço Nacional de Saúde”.

Nem Costa, nem Ferro Rodrigues, nem Margarida Marques: Sales

Embora tenha saído do Governo (e não existam sinais de que volte ao Ministério da Saúde com Manuel Pizarro), António Lacerda Sales - que entrou ao lado de Costa - foi um dos nomes mais elogiados em Leiria. A escolha da cidade “não foi por mero acaso”, explicou Costa. “Foi por Leiria ter dado a vitória ao PS pela primeira vez em eleições legislativas desde o 25 de Abril”. “Esta era uma vitória que há muito o PS sonhava”, atirou. E quem a conquistou? O secretário de Estado adjunto de Marta Temido, que nas legislativas de Janeiro concorreu como cabeça de lista pelo círculo de Leiria, conseguindo uma vitória que nem Ferro Rodrigues, nem Margarida Marques, nem o próprio António Costa conseguiram, como o secretário-geral do PS fez questão de sublinhar, no que se foi seguido por uma longa salva de aplausos.

Além de Lacerda Sales, estiveram presentes o ministro das Finanças, Fernando Medina; o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, António Mendonça Mendes, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais; Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho e da Segurança Social; Tiago Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus; o secretário-geral adjunto do PS, João Torres; o deputado e secretário-geral da JS, Miguel Costa Matos e a autarca de Matosinhos e presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses​ Luísa Salgueiro.

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