Feira abre colheita do lúpulo à população: uma festa da cerveja que celebra o trabalho agrícola

No fim-de-semana decorre “o único evento em Portugal” em que, realça a organização, uma festa da cerveja se associa à “colheita real de mais de 20 variedades de lúpulo”. É a Festa da Colheita do Lúpulo Feirense a 26 e 27 de Agosto.

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Alexandra Couto

Santa Maria da Feira acolhe na sexta-feira e no sábado uma festa de cervejeiros em que a população geral pode participar na colheita e secagem do lúpulo que será utilizado por vários produtores nacionais no fabrico de cerveja artesanal.

Com o apoio dessa autarquia do distrito de Aveiro e da empresa municipal Feira Viva, o evento é promovido pelo proprietário da produção agrícola “Lúpulo Feirense”, que declarou à Lusa que este é “o único evento em Portugal em que uma festa cervejeira está associada à colheita real de mais de 20 variedades de lúpulo” cultivadas no próprio terreno, numa área de aproximadamente 2.500 metros quadrados.

“Sexta e sábado vamos ter aqui uns 10 cervejeiros e um produtor de kombucha a vender as suas coisas, um parque de merendas para quem quiser trazer o seu próprio piquenique e depois a ideia é que as pessoas ajudem a colher o lúpulo, que vamos secar na casa ao lado”, revelou Gabriel Cardoso.

Esse produtor também é ceramista e professor de Física e Química, mas desde 2015 dedica-se sobretudo a cultivar a planta trepadeira cuja flor é comprada por várias marcas nacionais para conferir às respectivas cervejas propriedades específicas ao nível de estabilidade, aroma e amargor.

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Na exploração da Feira, que está disposta ao longo do rio Cáster e da nova ecovia no sopé da Mata das Guimbras, os níveis temperados de humidade e calor conferem ao lúpulo características particularmente apreciadas pela indústria do sector, como um alto teor de ácidos alfa e óleos essenciais.

“A minha variedade Cascade, por exemplo, tem 9,5% de ácidos alfa, enquanto as de outros produtores só costumam ter 6 a 9%”, realçou Gabriel Cardoso, sobre o composto químico que influi no travo amargo da cerveja.

Mas há outros lúpulos que os visitantes poderão colher este fim-de-semana, como a variedade de origem inglesa Golding, a alemã Hersbrucker, as neozelandesas Rakau e Wakatu, e as americanas Chinook e Santiam. Esta última, por exemplo, é uma das espécies mais recentes introduzidas na exploração “Lúpulo Feirense” e destaca-se das outras variedades porque, enquanto cada uma das restantes “só tem feito aromático ou amargoso, a Santiam é de dupla função” e combina ambas as propriedades.

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A Festa da Colheita do Lúpulo Feirense decorre na sexta-feira no período das 18h à 1h e no sábado entre as 10h e a 1h, na Rua do Carvalhal e na Praça dos Choupos, na proximidade das piscinas municipais.

A participação na colheita não tem carácter obrigatório, pelo que os visitantes podem apenas circular pela propriedade e pela plantação para ficarem a conhecer o processo agrícola e as diferentes variedades da espécie Humulus lupulus, que pertence à família Cannabaceae, nativa da Europa, Ásia Ocidental e América do Norte.

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Com ou sem participação dos curiosos e apreciadores de cerveja artesanal, Gabriel Cardoso antecipa que a colheita de 2022 deve resultar em cerca de 300 quilos de lúpulo, que serão depois, após a devida secagem, transformados em “pellets”. É nesse formato que os fabricantes de cerveja preferem adquirir a planta, já que essas bolinhas ou cilindros de granulado são mais fáceis de dissolver na fase de fervura e criação do mosto, e proporcionam assim à bebida uma intensidade de amargor cerca de 10% mais forte do que a permitida pelo uso da planta em flor.

Em todo o caso, o proprietário dos viveiros já fez as contas e garante: “Estes 300 quilos de lúpulo devem dar para fazer uns 70.000 litros de cerveja. Já dá para uns copitos”.

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