O Japão tem um recado para os seus jovens: bebam mais álcool

O Governo japonês lançou uma campanha para que os jovens apresentem ideias para reavivar a cultura do sake. Objectivo passa por melhorar a economia do país.

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Governo japonês lançou uma campanha para incentivar os jovens a beberem mais Sake Viva

Preocupado com a alteração da demografia e com a diminuição acentuada das receitas fiscais provenientes dos impostos especiais de consumo, o Japão encontrou uma solução invulgar para os seus males: encorajar os jovens a beber mais.

O Sake Viva! é um concurso promovido pela autoridade fiscal que está apelar a pessoas com idades compreendidas entre os 20 e os 39 anos para apresentarem “planos de negócios” que ajudem a reavivar a cultura da bebida japonesa, parte integrante da vida empresarial na nação da Ásia Oriental.

A pandemia de covid-19 acentuou um declínio de décadas no consumo de álcool no Japão, com os residentes a comer e a beber muito menos do que o habitual. Embora o país nunca tenha entrado num bloqueio total, foi declarado o estado de emergência em Tóquio, com medidas que incluíam pedir aos restaurantes e bares que fechassem mais cedo. Numa das fases da pandemia, a venda de álcool em restaurantes foi proibida, enquanto noutras alturas foi restringida a certas horas do dia. Enquanto as pessoas bebiam mais em casa, os níveis globais de consumo de álcool eram mais baixos do que o normal.

As receitas dos impostos sobre bebidas alcoólicas no ano fiscal de 2020 foram de cerca de 8,4 mil milhões de dólares (sensivelmente, 8,3 mil milhões de euros à taxa de câmbio actual), uma queda de mais de 813 milhões de dólares em relação ao ano anterior (aproximadamente 800 milhões de euros), de acordo com dados do Governo. Este foi o maior declínio em três décadas e uma causa de alarme para um Governo que enfrenta grandes desafios fiscais.

Em 2020, o consumo de álcool no Japão tinha diminuído cerca de um terço em relação à média anual de 22 galões (100 litros) por pessoa em meados dos anos 90, de acordo com a agência fiscal do país. Entretanto, as vendas de bebidas não alcoólicas que não estão sujeitas a impostos semelhantes aumentaram nos últimos anos, segundo os números da indústria.

Tal como em muitos países economicamente desenvolvidos, os japoneses mais jovens estão a beber menos do que as gerações mais velhas. Um inquérito do Ministério da Saúde de 2019 revelou que 29,4% das pessoas na faixa etária dos 20 anos não bebem álcool de todo, enquanto 26,5% disseram que raramente bebem.

O impulso pouco ortodoxo dos burocratas para “revitalizar a indústria das bebidas alcoólicas” causou alguma indignação nas redes sociais. Nenhum dos principais fabricantes japoneses de bebidas alcoólicas indicou publicamente o seu apoio.

“É bom que os jovens não bebam. Porquê torná-los viciados?”, escreveu um utilizador no Twitter, num post que atraiu centenas de likes. Outra pessoa escreveu: “Desde que possam cobrar impostos, parece que a saúde das pessoas não importa.”

O concurso pede aos participantes que proponham novas formas de estimular as vendas de bebidas, incluindo a utilização de inteligência artificial e o aproveitamento do metaverso — o universo virtual que mistura aspectos das tecnologias digitais, tais como a realidade virtual e a realidade aumentada. As inscrições encerram a 9 de Setembro e os finalistas serão convidados para um torneio que se realizará na cidade de Tóquio, em Novembro.

Também apela a “novos serviços e métodos de promoção” para estimular a procura entre os jovens e criar produtos que tenham em conta as mudanças de estilo de vida provocadas pela pandemia.

Não foi possível obter uma reacção do Ministério da Saúde em tempo útil.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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