Cidadãos vão limpar bairros de Lisboa, onde “estão a reaparecer pragas de ratos e baratas”

Dizem não ter memória de a cidade estar tão suja e que o lixo “se acumula nas ruas durante dias”. Para serem parte da solução e alertar as autoridades, um grupo de lisboetas vai ajudar a limpar alguns bairros de Lisboa.

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Há cada vez mais lixo nas ruas de Lisboa Rui Gaudencio

Um grupo de cidadãos está a organizar uma operação de limpeza em alguns bairros lisboetas. Dizem não ter memória de uma cidade tão suja e que estão a “reaparecer pragas de ratos e baratas há muito não vistas”. Por isso, decidiram deitar mãos à obra. Esta acção pretende ser também um alerta para a câmara e juntas de freguesias lisboetas, a quem cabe a recolha de lixo e a limpeza da cidade.

A primeira acção está marcada para o dia 1 de Setembro, no bairro da Graça, onde já nesta quarta-feira se vai realizar uma intervenção de rua para sensibilizar a população a participar na operação de limpeza.

“O objectivo desta iniciativa é chamar a atenção das autoridades competentes — Câmara Municipal de Lisboa [CML] e juntas de freguesia —​ para o problema da sujidade, insalubridade e pragas de ratazanas e baratas, que não se viam há muitos anos e que a acumulação de lixo tem vindo a provocar. Além do impacto visual e desconforto/cheiro. Queremos também sensibilizar a população local para um maior cuidado na gestão dos lixos”, afirmou ao PÚBLICO Ana da Silva Reis, promotora da iniciativa.

A investigadora da Fundação para a Ciência e Tecnologia mora na Graça desde 2014 e diz “nunca ter visto o bairro tão sujo”. “E o que acontece na Graça acontece em outros locais da cidade. São ruas completamente sujas e a federem a urina, cheias de dejectos de animais, beatas de cigarro e lixo que se acumula nas ruas durante dias. Lisboa vive uma situação nojenta”, diz Ana da Silva Reis, 40 anos.

Uma situação que, acrescenta, se agrava com o aumento do número de turistas que visita a cidade e que “faz aumentar significativamente a produção de lixo, ao mesmo tempo que não aumenta a sua recolha e a limpeza das ruas”.

Outro dos problemas que contribuem para a falta de limpeza da capital são, segundo a investigadora, “os cortes orçamentais que as juntas de freguesia têm tido nas verbas para a limpeza da cidade”. Um lamento que ouviu dos responsáveis da Junta de Freguesia de São Vicente, que contactou e que diz apoiar a iniciativa de limpeza do bairro da Graça.

“As juntas de freguesia vivem com muitas dificuldades e sem possibilidade de cumprirem a sua obrigação de limpeza dos bairros pelos cortes de verbas que dizem ter sido feitos. Nem sequer têm dinheiro para contratar pessoas para fazerem a limpeza e darem vazão a tantos resíduos. O estranho é que há bairros que parecem mais limpos que outros e, até por isso, gostaria de saber como é distribuída a verba para limpeza pelas diversas juntas de freguesia”, diz. A promotora de iniciativa afirma que também contactou a CML, a quem cabe a recolha de lixo, mas assegura que até ao momento não teve qualquer resposta.

Alargar a outros bairros

Foi a notória falta de limpeza da cidade em geral e do seu bairro em particular que levou Ana da Silva Reis e decidir que, enquanto cidadã, deveria fazer algo pela higiene da cidade. Contactou grupos de amigos, esses amigos contactaram outros conhecidos e assim nasceu o movimento que promete ajudar a limpar alguns bairros.

A Graça foi a escolhida por ser o local onde mora, mas diz que os contactos entre amigos levaram já pessoas de outros bairros a quererem realizar acções de limpeza, nomeadamente em Arroios, Alameda e Entrecampos. A extensão da operação a outros bairros “vai depender do nível de adesão à primeira iniciativa”.

“Somos um grupo de cidadãos que quer fazer parte da solução, sem desresponsabilizar as autoridades que têm a obrigação de zelar pela limpeza da cidade. Não temos quaisquer apoios e vamos fazer tudo por nossa conta a bem da cidade. Claro que no dia 1 de Setembro vamos limpar as ruas, mas queremos também alertar essas autoridades para o problema grave que a cidade está a viver”, acrescenta Ana da Silva Reis.

Querem ainda “alertar os cidadãos para a necessidade da gestão do seu lixo e para o cumprimento de regras básicas como, por exemplo, não atirar beatas para o chão, não urinar nas ruas ou apanharem os dejectos dos seus animais”.

Aos que quiserem participar na primeira operação a 1 de Setembro, a investigadora diz que devem levar vassouras, pás, sacos para o lixo e luvas. O roteiro já está traçado: Rua Voz do Operário, Rua Diogo Couto, Rua Bica do Sapato e Rua da Verónica.

O grupo criou uma página na rede social Facebook onde vai dando notícias da operação de limpeza.

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