Dolomitas, beleza superlativa

“Como é possível a omnipotente natureza ter produzido tamanho encanto!” A leitora Manuela Santos partilha a sua experiência pela cadeia de montanhas do Norte de Itália.

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Saborear, saborear devagar este momento! Respirar fundo. Abraço a imensidão de rochedos dolomíticos de beleza sem igual, emocionada, privilegiada. Como é possível a omnipotente natureza ter produzido tamanho encanto!

Salto de um miradouro para outro, subo e desço, de teleférico, encostas vertiginosas mas sempre soberbas. Os penhascos pontiagudos de cor cinza pálido por vezes raiados de castanho claro vão-se desfazendo em areias erodidas que escorrem pela montanha e penetram no verde da floresta mais abaixo, criando um efeito impressionante. No Passo Pordoi, o miradouro situa-se a 2950 metros de altitude e é aqui que entro numa dimensão espiritual.

Tenho a certeza de que não é o efeito da altitude. É a audácia da natureza que me envolve, numa visão a 360 graus, com belas montanhas ainda com vestígios de neve, vales verdejantes enfeitados por lagos azul-turquesa ou por pitorescos vilarejos que, do alto, nos parecem casinhas de bonecas. Numa apaixonada contemplação, o mundo feio, aquele que o homem destrói porque sim, ficou esquecido.

Apetece-me ficar mais tempo neste lugar de reflexão mas as Dolomitas, cadeia de montanhas no Norte de Itália, ainda têm muito para me dar. Continuo por estradas de curvas generosas que permitem ver cenários exuberantes dos mais variados ângulos e o pasmo é um nunca acabar mas o património cultural é, também, extraordinariamente curioso e bonito. Igrejas que apresentam vários estilos artísticos, o Santuário de S. Romédio encavalitado num rochedo e de origem medieval, a Danza Macabra, título de um grupo de afrescos numa alegoria à morte, na parede exterior da Igreja de S. Vigilio em Pinzolo.

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Ouvi contar a lenda do sangue de dragão derramado que, supostamente, teria dotado de imensa fertilidade estas terras e, por isso, a agricultura é tão pujante em todos os vales que rodeiam as pequenas cidades. Fico impressionada com a extraordinária e pré-histórica múmia de Otzi num extraordinário estado de conservação, no mínimo, intrigante e que pode ser apreciada no Museu Arqueológico do Alto Adige.

As Dolomitas ainda oferecem caminhos incrivelmente prazerosos, inesquecíveis, que me fazem parar de caminhar para registar numa foto aquilo que a vista alcança sem nunca se fartar. E se os olhos aqui têm muito alimento o estômago também não fica esquecido.

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Ao fim da tarde, em Trento, tomo um Prosecco que convida a um jantar bem simpático e elegante. O antipasti : ovo com salada de espelta, beterraba, sementes de endro com pepino marinado e iogurte. Primo piatto : risotto de urtigas com fondue de queijo casolet, poeira de toranja e essência de gin. Dolce: semifrio de maçã sobre granola de fruta fresca, gel de cardamomo e molho de iogurte. Por todo o lado, a polenta, a pizza, os risottos diversos ou as massas, desafiam as papilas gustativas.

Voltar às Dolomitas é já um desejo.

Manuela Santos (texto e fotos)

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