Para lutar contra a seca, projecto tenta remover poluentes das ETAR e reaproveitar água para rega

Se queremos reutilizar as águas residuais tratadas para regar campos agrícolas, por exemplo, é preciso remover poluentes como fármacos, pesticidas e microplásticos. Um projecto científico português está a estudar a melhor forma de o fazer.

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ETAR de Alcântara, em Lisboa: estas infra-estruturas não foram pensadas para remover fármacos, pesticidas ou microplásticos RUI GAUdêNCIO

Cientistas estão a tentar remover pesticidas, fármacos e microplásticos das águas das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) para que estas possam ser reaproveitadas e reutilizadas noutros fins, como a rega de campos agrícolas e desportivos.

“Não tem sentido aproveitar as águas residuais tratadas para, por exemplo regar campos agrícolas, se as ETAR não removerem os poluentes”, afirmou à agência Lusa Cristina Deleure Matos, investigadora do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).

Embora a legislação “não o imponha” e as Estações de Tratamento de Águas Residuais não tenham sido desenhadas para remover poluentes como fármacos, pesticidas e microplásticos, é esse o propósito do projecto BioReset, que arrancou em Abril.

“Como as ETAR não removem os poluentes, tornam-se uma grande fonte de entrada no ambiente destes compostos, que causam efeitos danosos nos organismos vivos”, salientou Cristina Deleure Matos.

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As águas residuais tratadas podem ser usadas para regar campos de golfe, entre outras aplicações Paulo Pimenta

Neste momento, os cientistas estão a desenvolver metodologias analíticas para a detecção e remoção dos microplásticos da água. Para os pesticidas e para os fármacos, algumas metodologias já tinham sido validadas no decorrer do projecto europeu Rewater.

“Esta temática foi iniciada no Rewater, que serviu de base para este novo projecto, no qual desenvolvemos alguma metodologia analítica para fazer a monitorização e estudar a região”, esclareceu Cristina Deleure Matos, coordenadora do Grupo de Reacção e Analises Químicas (GRAQ) do ISEP.

Estas metodologias analíticas têm por base um diagnóstico, através do qual os investigadores tentam perceber quais os poluentes emergentes que têm de ser removido. E porque estas técnicas são dispendiosas, tenta-se determinar também quais os métodos mais adequados para o fazer.

O objectivo é o mesmo: “Reaproveitar as águas residuais, com segurança e sustentabilidade, para outros fins”, tais como a rega de campos agrícolas e desportivos (campos de golfe), mas também paisagísticas (zonas exteriores industriais e áreas residenciais).

O reaproveitamento destas águas pode não ficar por aqui e estender-se, por exemplo, à limpeza de pavimentos, descarga de autoclismos, lavagem de automóveis e combate a incêndios.

Ao longo dos próximos três anos, os investigadores do grupo integrado no REQUIMTE – Laboratório Associado para a Química Verde do ISEP vão debruçar-se sobre esta matéria, em colaboração com Estações de Tratamento de Águas Residuais do grupo Águas do Centro Litoral, onde vai ser possível realizar estudos à escala piloto e real.

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