Ventoinhas e “praias”: em Lisboa enfrentaram-se temperaturas de 40 graus com o que se pôde

O calor está a pôr o país em alerta. Durante esta quarta-feira, na cidade de Lisboa, as soluções encontradas para aguentar as altas temperaturas foram desde ventoinhas portáteis a sestas debaixo das árvores após o almoço.

Foto
Muitos encontraram algum frescor no Cais das Colunas Nuno Alexandre

Não fossem o leque e os salpicos de água com os quais se vai refrescando por meio de um spray, “não aguentava”. Carla Valente, proprietária de dois pontos de venda de gelados no Cais do Sodré, em Lisboa, tenta disfarçar o suor que lhe brilha na testa jorrando mais água para a cara.

Vende gelados e bebidas frescas na rua, daí não ter maneira de se esquivar ao calor. Suporta-o só mesmo com as “abanadelas” com o leque que lhe servem de ar condicionado e com os salpicos de água, parcos substitutos dos banhos de mar que aliviarão aqueles que vai vendo passar pela sua banca e que têm como destino o terminal fluvial. E, pelo meio, também ela vai comendo gelados para se refrescar, a que se juntam os dois litros de água que passou a beber diariamente.

“[O tempo] está insuportável”, mas quem trabalha “não tem remédio” senão manter o negócio a funcionar, diz esta vendedora. Mas não deixa de notar um aspecto positivo do tempo quente: as vendas aumentam.

Em Lisboa, as temperaturas máximas rondavam os 40ºC. Cada pedaço de sombra passou a ser disputado. Nas paragens de autocarro, as pessoas tentam ao máximo tirar a cabeça do sol. As pausas para o almoço fazem-se debaixo de árvores ou em bancos escolhidos cuidadosamente, de preferência perto de um repuxo onde se possa encher a garrafa de água. Muitos saem de casa precavidos com lenços para limpar o suor e com ventoinhas portáteis para refrescar o ar enquanto caminham. À beira-rio, o clima está ligeiramente mais fresco e muitos aproveitaram para fazer praia junto do Cais das Colunas, no Terreiro do Paço.

Para os que trabalham, em particular no exterior, não há muito que possam fazer se não ajustar-se às condições: “Temos de trabalhar”, afirma Rafael Gomes, enquanto faz um acabamento numa fachada em pleno sol do meio-dia. “Graças a Deus que é só hoje” que está a trabalhar na rua, diz o pedreiro, que costuma ser chamado para o interior da obra. No entanto, até “dá para suportar o calor” com várias pausas para beber água.

Não muito longe, diante do Time Out Market Lisboa, onde um jovem vende piña colada, água de coco e sumo de laranja, e duas educadoras de infância com um grupo de crianças que brincam no parque infantil do largo, também a água é remédio santo.

Foto
Piscina no jardim do Torel Nuno Alexandre

“Molho a cara, as mãos e o pescoço”, diz o vendedor de bebidas, cuja banca foi montada estrategicamente debaixo de uma árvore. “Estou à sombra, portanto não está assim tão mau”, admite Nuno Garcia. A grande diferença que tem notado desde que a temperatura aumentou é que há menos pessoas nas ruas, logo menos compradores.

Ao lado, também as duas educadoras de infância vão salpicando as crianças com água enquanto estas brincam, de chapéu na cabeça, no parque infantil. Foi esta a solução que arranjaram para poder levá-las a brincar, durante uma hora, mantendo-as frescas ao mesmo tempo, explica Ilona Kubenko. Todas as crianças, assim como as duas educadoras, são refugiadas ucranianas. O jardim-de-infância em questão foi aberto especificamente, em Abril, para acolher 60 crianças de famílias ucranianas que tenham fugido à guerra.

O ar condicionado que faz esquecer o calor

Já quem trabalha em espaços interiores até se esquece do calor que faz lá fora devido às temperaturas frescas proporcionadas pelos ares condicionados. É o caso de Alberto Ferreira, que trabalha numa padaria e que nem chega a sentir o calor das fornadas devido aos três ares condicionados que refrescam a área do balcão. Também ele frisa que o negócio “está bem mais fraco”, sobretudo durante as manhãs, que antes eram “o período mais forte do dia”. Os clientes passaram a evitar os bolos: vêm agora pelas saladas e pelos “sumos de laranja com gelo”. E pelo ar condicionado.

Foto
Jardim de São Pedro de Alcântara Nuno Alexandre

Para quem está de férias o calor levanta um dilema. Érica Lourenço, uma jovem brasileira, esclarece: “A gente não sabe se vai para a praia refrescar-se, onde o sol está quente, ou se fica dentro de casa, que está quente também”. Embora venha de um país onde as temperaturas elevadas não são novidade, diz que “este ano está insuportável”, considerando ainda “preocupantes” as ondas de calor que estão a correr o mundo, agravadas pelas alterações climáticas.

Érica Lourenço decidiu ir à praia tentar a sua sorte. E, até lá, agarra-se ao seu gelado, que, após dois minutos de conversa, já lhe escorria pelos dedos.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários