“Uma ruptura civilizacional”: como os jornais internacionais vêem a guerra na Ucrânia

Jornais europeus acusam Vladimir Putin de ter uma visão distorcida da História e de ter “perdido o juízo”. Na China ainda se acredita numa resolução pacífica do conflito.

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Habitantes de Kiev entopem as estradas numa tentativa de fuga à guerra EPA/SERGEY DOLZHENKO

Nos jornais de todo o mundo multiplicam-se reportagens e análises à decisão russa de invadir a Ucrânia durante esta madrugada. Eis um apanhado de reacções ao fim da manhã.

A Oriente, o South China Morning Post faz manchete com os esforços diplomáticos da China para “parar a crise ucraniana”. Sem apoiar ou condenar o reconhecimento da independência das regiões separatistas ucranianas pela Rússia, o embaixador chinês junto da ONU, Zhang Jun, declarou que “a porta para uma solução pacífica para a situação ucraniana não está completamente fechada e não o deve ser”.

O Kyiv Post, que reporta a partir da capital da Ucrânia, usa um texto da agência francesa AFP para titular “O assassino ataque de Putin a um vizinho pacífico!”. O texto relata como a cidade de Chuguiv, perto de Cracóvia, foi surpreendida esta madrugada por bombardeamentos russos.

Nos jornais norte-americanos o destaque vai para as palavras de Joe Biden, que garantiu que os EUA “vão responsabilizar a Rússia” pelo ataque. O Washington Post dá conta, no entanto, de que as primeiras sanções económicas anunciadas pelos Estados Unidos atingem dois bancos russos que se focam no mercado interno e são sobretudo financiados internamente, pelo que o seu efeito poderá ser limitado, o que constitui uma desilusão para os críticos de Putin.

No Le Monde, que à semelhança da maioria dos jornais mundiais têm um acompanhamento ao minuto do conflito, uma reportagem do enviado especial a Kiev está na primeira linha. O título: “São 5h05, quinta-feira 24 de Fevereiro, em Kiev, na Ucrânia. A guerra começou.”

O italiano La Repubblica tem um vídeo do jornalista enviado à Ucrânia, que conta como “depois do ataque” a Kiev se instalou “um silêncio surreal”. A atmosfera na cidade, relata, faz lembrar “um domingo de descanso”.

Nos jornais alemães há já opiniões contundentes sobre a invasão russa. Escreve Nikolas Busse no Frankfurter Allgemeine Zeitung: “A invasão da Ucrânia é uma ruptura civilizacional como a Europa não via há muito. Vai além da guerra dos Balcãs ou das incursões na Geórgia ou na Crimeia. Um grande poder negar a um vizinho pacífico o direito a ser um Estado e o invade sem motivo é um regresso aos tempos mais negros da História europeia. Putin está a tentar fazer voltar atrás os relógios no continente de um modo que muitos até há pouco tempo achavam inimaginável.”

Também o Suddeutsche Zeitung não é brando nas palavras. Stefan Kornelius, o editor de Política do jornal, escreve que “Vladimir Putin é um ditador fora de controlo” e que é tempo de a Europa mostrar uma oposição forte ao presidente russo.

No El País, o historiador Antony Beevor diz que Putin parece “ter perdido o juízo” ao apresentar uma justificação para a invasão “completamente incoerente” e comportar-se como “uma espécie de reflexo distorcido de Hitler”. “No seu incoerente discurso à nação, a sua versão da História da Ucrânia está completamente distorcida”, acusa Beevor. com Maria João Guimarães

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