Nesta oficina do Porto adaptam-se brinquedos para crianças com deficiência

Voluntários da Associação do Porto de Paralisia Cerebral reparam e adaptam gratuitamente brinquedos para crianças com deficiências motoras. A ideia de criar o serviço surgiu da necessidade de terem brinquedos que “fossem acessíveis e permitissem a participação de todas as crianças”.

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A Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC) criou o serviço e um ex-técnico de ar condicionado tornou-o frequente: chama-se Oficina do Brinquedo e adapta gratuitamente brinquedos para crianças com deficiências motoras.

A ideia remonta a 2012, mas só a partir de 2019, com a chegada do voluntário Sílvio Mota, a adaptação de brinquedos para crianças com deficiência motora passou a ter um carácter mais frequente, funcionando às terças ou quintas-feiras, no Centro de Reabilitação da APPC.

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Sara Brandão, técnica ocupacional e responsável pelo projecto, revelou à Lusa que a ideia de criar o serviço surgiu da necessidade de terem brinquedos que “fossem acessíveis e permitissem a participação de todas as crianças”. “Tendo as nossas crianças dificuldades motoras e de acesso a botões mais pequeninos, desenvolvemos este projecto, que permite a adaptação do brinquedo para que ele seja accionado por um switch [botão] por qualquer criança com a mão, joelho ou o que for necessário”, explicou.

Ao nível da intervenção precoce, trabalham com “mais ou menos 250 crianças”, contabilizou a responsável, cuja experiência a fez perceber que, “no mercado, os brinquedos comprados já com a adaptação têm um custo mais elevado”. “Aqui a adaptação é gratuita para os clientes e sócios”, disse.

Na lógica de que os problemas graves, por vezes, têm soluções simples, na oficina encontrou-se essa solução, sob a forma de um botão externo, do tamanho da mão de uma criança, para que possa carregar e, assim, interagir com o brinquedo, ouvindo música ou vendo as luzes e cores que emite. Sara Brandão acrescentou que “o projecto tem vindo a crescer conforme as necessidades, tendo hoje muito mais brinquedos adaptados para experimentar e emprestar”.

Sílvio Mota, de 62 anos, é uma das caras do projecto. É voluntário desde 2019, depois de ter cessado funções “numa empresa de ar condicionado” e ter “ficado viúvo” e aceitado o convite de uma técnica da instituição. “Só quando cá cheguei é que percebi o que vinha fazer”, disse à Lusa enquanto reparava um gravador na sua divisão exclusiva e que é “muito visitada por crianças e adultos” que frequentam o Centro de Reabilitação.

Na mesa ao lado, dois peluches marcam o antes e o depois da sua intervenção: um cão pronto para ser entregue e que mostra estar adaptado quando se carrega no botão ligado por um fio com cerca de 50 centímetros, e um urso, nas mesmas condições, ainda aguarda pela afinação.

“A minha função é reparar e adaptar os brinquedos”, precisa o voluntário. Garantindo ter “sempre que fazer”, numa das três manhãs em que está na associação, disse que faz também “reparações no banco de apoio, reparando cadeiras de rodas eléctricas ou manuais”. Apesar da pausa provocada pela pandemia, Sílvio Mota estima que entre “reparações e adaptações” já tenha podido intervir em “talvez numa centena de brinquedos”.

Ana Cristina Novo, mãe de Clara, uma criança de cinco anos que tem paralisia cerebral, foi peremptória: “Este serviço ajudou-nos bastante em relação ao brincar”. “Brincar faz parte da essência e da rotina de qualquer criança. No caso de crianças com paralisia cerebral, com limitações motoras graves, como é o caso da Clara, é difícil brincar sem a presença de um adulto”, explicou.

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Testemunhando a realidade da filha ao lado, no colo do pai, Ana Cristina confirmou que a “adaptação dos brinquedos veio ajudar muito a autonomia da Clara”, permitindo-lhe “carregar no botão e fazer o boneco cantar”. “Em termos monetários, também é uma ajuda preciosa porque temos acesso gratuitamente à adaptação, já que os brinquedos adaptados são caríssimos e é incomportável num orçamento familiar por si só já muito exigente para quem tem crianças com necessidades especiais”, assinalou.

Para além do “tempo livre” que eles, pais, passaram a poder ter, a nova realidade, testemunhou, fê-los, sobretudo, “felizes, porque uma das grandes frustrações enquanto pais de uma criança com tantas limitações era ela não conseguir brincar sozinha”. “A APPC tem um Pai Natal muito importante nas nossas vidas. Sem dúvida.”

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