Protestos contra a lei do aborto depois de morte de grávida na Polónia

Médicos decidiram interromper a gravidez de Izabella apenas depois de o coração do feto deixar de bater. A grávida morreu a caminho da sala de operações.

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Manifestantes dizem que Izabela ainda podia estar viva se a lei do aborto não fosse tão estrita na Polónia LESZEK SZYMANSKI/EPA
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Houve manifestações em várias cidades polacas, como Wroclaw Sebastian Borowski/EPA
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Muitos manifestantes ligaram lanternas ou velas em Varsóvia DAWID ZUCHOWICZ/Reuters

Milhares de pessoas saíram à rua por toda a Polónia no sábado para protestar contra as leis do aborto que o proíbem em praticamente todos os casos, depois de a morte de uma mulher grávida ter reacendido o debate sobre a questão.

Uma decisão do Tribunal Constitucional da Polónia, um dos países mais católicos da Europa, decretando que o aborto por malformações do feto contrariava a Constituição do país, entrou em vigor em Janeiro, levando a uma proibição praticamente total de interrupções voluntárias da gravidez e levando a protestos generalizados.

Houve marchas em várias cidades polacas, incluindo Pszczyna, no Sul da Polónia, onde a mulher que morreu vivia. Muitas pessoas que se manifestaram levaram velas e cartazes a dizer “nem mais uma” e “indiferença é cumplicidade”.

A morte de Izabela, de 30 anos, por choque séptico, na 22.ª semana de gravidez, está a ser vista por activistas de direitos das mulheres como o resultado das novas regras: Izabela tinha ido ao hospital depois de as águas terem rebentado e de ecografias terem mostrado várias malformações no feto. Mas os médicos não interromperam a gravidez, argumentando que não o fariam enquanto o coração do feto ainda batesse.

Quando um exame de imagem mostrou que isso aconteceu, Izabela foi levada para uma sala de operações para fazer uma cesariana, relatou a advogada da família, Jolanta Budzowska. O coração da grávida parou a caminho da sala de operações, e morreu.

“O coração dela também estava a bater”, diziam outros cartazes nas manifestações contra a lei muito restritiva, em vigor desde Janeiro, que permite que a mulher aborte apenas em casos de violação, incesto, e risco grave para a saúde da mãe, deixando de permitir o procedimento em casos de malformação do feto - este último representava a razão para 98% das interrupções voluntárias da gravidez.

“A lei anti-aborto na Polónia mata mulheres polacas. É cruel, é aterrador”, disse uma mulher no protesto em Pszczyna à emissora de televisão privada TVN24. “É desumano e espero que esta situação contribua de alguma forma para que as mulheres polacas não tenham de morrer”.

O site Onet publicou uma entrevista com o marido de uma outra mulher que, segundo ele, morreu em Junho em circunstâncias semelhantes.

O Governo diz que a morte de Izabela não é responsabilidade da lei mas sim de erro dos médicos. O ministro da Saúde, Adam Niedzielski, disse que pediu ao conselho de ginecologia e obstetrícia para publicar linhas de orientação para tornar claro quando é que é legal terminar uma gravidez, sendo a segurança da mulher uma razão para o fazer, declarou à rádio RMF.

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