“Reciclar é alimentar”: Banco Alimentar já recebeu 750 toneladas de arroz fertilizado com borra de café

“Para mim, fertilizar campos de arroz com composto de borra de café e esse arroz ser doado ao Banco Alimentar, é produzir arroz com alma”, declara Manuel Cachadinha, proprietário da Herdade Monte das Figueiras, em Santa Margarida do Sado, onde se semeia o grão solidário.

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Da esquerda para a direita: Maria Antónia do Rosário, do Banco Alimentar; Brigitte Felber, da Nespresso; e Manuel Cachadinha, da Herdade Monte das Figueiras DR

Prestes a celebrar 12 anos, o projecto “Reciclar é Alimentar” da Nespresso já entregou cerca de 750 toneladas de arroz ao Banco Alimentar de Lisboa, Porto e Setúbal, suficiente para 15 milhões de refeições. Mas não é um arroz qualquer ─ é fertilizado com um composto da borra de café das cápsulas que os portugueses entregam para reciclagem. Em 2022, o objectivo da empresa é atingir a neutralidade de carbono em toda a cadeia de abastecimento e ciclo de vida do produto.

Há uma dúzia de anos que na Herdade Monte das Figueiras, em Santa Margarida do Sado, se produz um arroz mais sustentável e solidário, o que, para o seu proprietário Manuel Cachadinha, “é um orgulho”. Tudo começa quando se espalha o composto de borra de café em 33 hectares da herdade — um terço da extensão de 96 hectares de arrozal da propriedade. Depois planta-se o arroz num canteiro nivelado “com muito rigor” com dez centímetros de água, explica ao PÚBLICO.

É precisamente em Outubro que acontece a ceifa do arroz. Nos canteiros fertilizados com o composto de borra de café nascem, todos os anos, perto de 220 toneladas deste grão. Essas 220 toneladas, a Nespresso compra, manda descascar e embalar para que cheguem à mesa de quem mais precisa, através do Banco Alimentar. Depois de tratado o arroz, restam, normalmente, 100 toneladas que são doadas. “Por um lado, estamos a proteger ambiente e, por outro, a apoiar socialmente aqueles que mais necessitam. Para mim, fertilizar campos de arroz com composto de borra de café e esse arroz ser doado ao Banco Alimentar, é produzir arroz com alma”, declara Manuel Cachadinha.

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A responsável do Banco Alimentar, Maria Antónia do Rosário, destaca o “Reciclar é Alimentar” como um projecto de elevado impacto social e ambiental. A nível nacional são 21 bancos alimentares, que apoiam 2600 instituições que, por sua vez, ajudam a alimentar 400 mil pessoas. “Não esquecer que, em Portugal, há cerca de um milhão de pessoas que têm menos de 250 euros por mês, é uma pobreza estrutural”, relembra, ao PÚBLICO.

Ainda que as 750 toneladas de arroz doadas, ao longo dos últimos 12 anos, não sejam suficientes para alimentar todos esses portugueses — sobretudo porque somos o povo europeu que mais arroz come — são um contributo fundamental. “Todos os dias os bancos alimentares doam cem toneladas de alimentos, dos quais 60% são alimentos básicos”, salienta Maria Antónia do Rosário. 

Além da parceria com a Nespresso e outras empresas, uma fonte de donativo de alimentos crucial é a campanha nacional feita nos supermercados, onde são recolhidas, tipicamente 2500 toneladas em todo o país. Está agendada uma nova acção para 27 e 28 e Novembro.

“A Nespresso tem mais responsabilidade do que ter o café perfeito”

Só falta um ano para a Nespresso confirmar se cumpriu o propósito de atingir a neutralidade de carbono, mas em Portugal a caminhada para esse objectivo já se vem fazendo há 12 anos. O nosso país foi pioneiro com o projecto “Reciclar é Alimentar”, replicado, no entretanto, em Espanha e Itália.

A responsável pelo mercado nacional, Brigitte Felber, só está no país há um ano (ainda que trabalhe na empresa há mais de duas décadas), mas garante que, em todo o mundo, se fala do exemplo português. “No passado bastava fazer anúncios. Agora é mais do que isso. A Nespresso tem mais responsabilidade do que ter o café perfeito”, acredita.

Se a borra de café é usada para fertilizar campos de arroz, o alumínio das cápsulas também não é desperdiçado. Depois de ser reciclado em Loures, esse material segue para Viana do Castelo, para ser usado novamente em cápsulas ou integrado em novos objectos, como canetas, canivetes e até bicicletas. “Preocupa-nos esta visão 360º da sustentabilidade”, diz Brigitte Felber. Aliás, a missão sustentável da Nespresso remonta a 1991 quando, na Suíça, se iniciou o primeiro sistema de reciclagem.

E como é que o consumidor pode contribuir para esta campanha? Se for cliente Nespresso, reciclando as cápsulas de café. Depois de utilizadas, as cápsulas podem ser entregues em mais de 250 pontos, incluindo as lojas da marca, ou devolvidas ao estafeta no momento em que recebe a nova encomenda, num saco fornecido para o efeito.

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