Cocaína e ecstasy do Festival de Glastonbury foram parar ao rio — e as enguias podem estar em perigo

Investigadores encontraram vestígios de cocaína e MDMA no rio que atravessa o recinto do Festival de Glastonbury em níveis que podem ameaçar o ecossistema local, em particular as enguias-europeias. Tal deve-se aos festivaleiros que urinam ao ar livre para o chão.

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Reuters/HENRY NICHOLLS

Um rio que atravessa o recinto do Festival de Glastonbury, um dos maiores festivais de música ao ar livre, que se realiza em Somerset, no Reino Unido, apresenta vestígios de droga, como cocaína e ecstasy, que podem prejudicar o ecossistema local, indica um estudo publicado na Environmental Research. Tal pode estar relacionado com os festivaleiros que urinam frequentemente para o chão.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Bangor, no País de Gales, liderada por Christian Dunn, concluiu que a concentração de MDMA, conhecido como ecstasy, quadruplicou a jusante do rio Whitelake na semana após o Festival de Glastonbury, quando se realizou pela última vez, em 2019. Segundo os cientistas, as concentrações de cocaína subiram para níveis que podem afectar o ciclo de vida das enguias-europeias, uma espécie protegida.

“A contaminação com drogas ilícitas por causa das pessoas que urinam em público acontece em todos os festivais de música”, disse Dan Aberg, estudante de mestrado da Escola de Ciências Naturais de Bangor, que, com Daniel Chaplin, do Centro de Biotecnologia Ambiental da mesma instituição, mediu os níveis de drogas ilícitas antes, durante e após o festival.

“A proximidade do Festival de Glastonbury com um rio faz com que quaisquer drogas libertadas pelos espectadores tenham pouco tempo para se degradarem no solo antes de entrarem no frágil ecossistema da água doce.”

Um porta-voz do festival disse que a protecção dos riachos e da vida selvagem locais tinha uma extrema importância para o Glastonbury. “Temos consciência que a maior ameaça aos nossos cursos de água – e à vida selvagem que neles habita – vem dos festivaleiros que urinam na terra”, admitiu. “É algo que temos trabalhado arduamente para reduzir nos últimos anos através de uma série de campanhas, com um sucesso considerável. Continuaremos a desencorajar que as pessoas urinem no chão em festivais futuros.”

Os cientistas apelam a que se minimize o impacto ecológico da libertação de drogas ilícitas dos festivais, investindo-se na investigação de métodos de tratamento amigos do ambiente. E pedem que haja mais informação e sensibilização.

“A nossa principal preocupação é o impacto ambiental. Este estudo conclui que as drogas estão a ser libertadas em níveis suficientemente altos para perturbar o ciclo de vida da enguia-europeia, o que potencialmente pode deitar por terra os esforços de conservação desta espécie ameaçada”, disse Christian Dunn, citado num comunicado publicado no site da universidade.

“A educação para as questões ambientais é essencial. Tal como as pessoas foram sensibilizadas para o problema da poluição por plástico, e o Glastonbury empenhou-se em não ter plástico, também precisamos de aumentar a sensibilização em torno dos resíduos de drogas e medicamentos – estão escondidos, mas são poluentes potencialmente devastadores.”

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