Só peregrinos imunizados estão autorizados a ir a Meca durante o Ramadão

Para evitar um pico de contágios, as autoridades sauditas limitaram as visitas às mesquitas sagradas e a peregrinação menor do umrah àqueles que já estejam vacinados ou que tenham imunidade natural.

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O umrah foi suspenso em Março de 2020, esvaziando a Grande Mesquita de Meca STRINGER/Reuters
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Em 2019, cerca de 2,5 milhões pessoas peregrinaram até Meca STRINGER/EPA

Apenas “pessoas imunizadas” vão poder rezar na Grande Mesquita de Meca e fazer a peregrinação menor do umrah durante o Ramadão, estipularam as autoridades sauditas. Para realizar o umrah, que antes atraía habitualmente 53 mil peregrinos por dia, bem como para poderem visitar as duas mesquitas sagradas, os peregrinos dos vários cantos do mundo têm de pertencer a uma das três “categorias de imunização”: devem ter já recebido as duas doses da vacina, ou apenas a primeira, mas recebida necessariamente pelo menos 14 dias antes, ou já ter contraído o vírus.

Os restantes, incluindo aqueles que estão fora da faixa etária autorizada pelo Governo que vai dos 18 aos 70, não poderão participar nos rituais da Grande Mesquita de Meca e da Mesquita do Profeta durante o mês sagrado do islão, que terá início no próximo dia 13 ou 14 de Abril.

No final de Março, o Ministério de Hajj e Umrah saudita ainda publicara no Twitter que “até agora, não há requisitos que obriguem os peregrinos a obter uma vacina contra o coronavírus para fazer o umrah durante o Ramadão”. Decisão agora alterada.

A par da imunização obrigatória, que será monitorizada através da aplicação oficial Tawakkalna, as autoridades revelaram que a capacidade da Grande Mesquita será alargada a partir do primeiro dia do Ramadão. Não avançaram um número concreto, mas os peregrinos terão de reservar a sua visita através da aplicação para que a capacidade máxima não seja superada e as medidas de segurança continuem a ser cumpridas, como diz o jornal estatal Okaz.

Todos os funcionários das mesquitas estarão vacinados, segundo disse à Saudi Press Agency o porta-voz da presidência geral dos assuntos relacionados com as duas mesquitas sagradas, em conformidade com a campanha de vacinação promovida pelo Ministério da Saúde saudita.

E se antes as operações de esterilização das mesquitas já eram rigorosas, foram mais reforçadas agora para o Ramadão, com actualmente cerca de 5 mil pessoas encarregues da desinfecção. A Grande Mesquita de Meca está a ser esterilizada até dez vezes ao dia.

No átrio em torno da Caaba, o monumento erguido no centro da Grande Mesquita que marca o lugar mais sagrado para os muçulmanos, foram criados 14 “caminhos virtuais” para acentuar a distância física entre os peregrinos quando estes exercerem o ritual de circum-ambulação, conhecido como tawaf – onde vastas multidões circundam sete vezes a Caaba, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.

A grande peregrinação do hajj

Não é certo se estes requisitos se vão manter durante a principal peregrinação a Meca do hajj, que se realizará em meados de Julho e que, em tempos normais, atrai mais de 2,5 milhões de crentes.

O jornal Okaz aponta, contudo, para uma extensão do prazo dos requisitos com base no “plano de saúde” que o Ministério da Saúde lançou no mês passado. Se o plano entrar em vigor, as duas doses de vacinas passarão a ser obrigatórias tanto para peregrinos residentes como internacionais. Máscaras e distância social, assim como a apresentação de um teste negativo para quem vem do estrangeiro, continuarão a estar em vigor.

O hajj é um dos cinco pilares do islão que constam no Alcorão e é um evento anual celebrado no último mês do calendário islâmico. Contrariamente ao umrah, que pode ser levado a cabo a qualquer altura do ano e sem compromissos, os muçulmanos são obrigados a peregrinar até à cidade santa de Meca no hajj pelo menos uma vez na vida.

No ano passado, as restrições impostas pelo coronavírus reduziram o número de peregrinos no hajj para mil, e unicamente para residentes no país. O umrah foi suspenso no início de Março de 2020, logo depois de surgirem os primeiros casos de covid-19 na Arábia Saudita. Só sete meses depois é que as peregrinações foram parcialmente reatadas, primeiro para os sauditas e residentes estrangeiros, e só mais tarde para os internacionais.

Também as portas da Grande Mesquita reabriram em Outubro, assinalando uma primeira fase do relaxamento das restrições.

Em Dezembro, no entanto, o país voltou a fechar portas aos peregrinos internacionais, depois de se ter descoberto que uma das mutações do coronavírus se tinha estendido. Seguiram-se confinamentos rigorosos e limitações à entrada de viajantes via aérea, que só têm vindo a ser levantadas desde o mês passado, permitindo um regresso gradual dos fiéis aos locais de culto.

A pandemia a saudar o Ramadão

A entrada no período sagrado do Ramadão, onde os muçulmanos praticam um jejum desde o nascer até ao pôr-do-sol em nome da sua adoração a Alá, coincide com um novo aumento das infecções de covid-19 na Arábia Saudita, onde já houve quase 400 mil infecções no total e mais de 6700 mortes.

No início deste mês, as autoridades sauditas tiveram de encerrar onze mesquitas no país por causa de infecções de peregrinos.

Pelo menos 5 milhões de pessoas já receberam a primeira dose da vacina, num país com uma população superior a 34 milhões. Segundo a imprensa local, as autoridades planeiam ter pelo menos 60% da população de Meca e Medina vacinada antes que chegue a temporada do hajj.

Texto editado por António Rodrigues

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