O projecto do Lordelo quer finalmente dar raízes a quem lá mora

Em Lordelo do Ouro, entre os bairros de Pinheiro Torres e da Mouteira, serão construídos 320 fogos. O empreendimento será acompanhado de uma reformulação paisagística num território afectado por problemas sociais de vária ordem. Na calha está também a unificação do Parque Urbano da Pasteleira.

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ADRIANO MIRANDA

Na primeira semana de Janeiro a câmara do Porto já tinha anunciado os arquitectos escolhidos para desenhar uma nova centralidade em Lordelo do Ouro, mas só na segunda-feira os recebeu para a entrega da distinção. Ao todo são oito, divididos por três projectos diferentes para a mesma zona. A finalidade é dar uma nova cara a uma freguesia marcada por um sentimento de desligamento em relação ao resto da cidade - para isso contribuem problemas sociais complexos, nalguns casos relacionados com tráfico de droga. 

Contribuirá para aproximar essa área geográfica do resto da cidade a construção de mais uma urbanização orientada para o arrendamento acessível que nascerá entre os bairros camarários de Pinheiro Torres e da Mouteira. Mas este será apenas o primeiro passo de um projecto maior - na calha está ainda a unificação do parque urbano da Pasteleira.

Programada está a construção de 320 fogos divididos por cinco prédios, na sua maioria para arrendamento acessível. Este será o ponto de partida para uma reformulação urbana de todo o território em causa. Três dos edifícios serão da responsabilidade dos arquitectos Francisco Pinto, Maria Eduarda Souto de Moura e Francisco Pina Cabral. Outros dois serão desenhados no estirador de Filipe Madeira e Vânia Saraiva. Responsáveis pela reorganização paisagística da área envolvente ficarão João Castelo Branco, Benedita Silva Pinto e Jorge Miguel Hugo Magalhães.

Este projecto soma-se a outros com características semelhantes anunciados pela autarquia anteriormente, como é o caso do que está programado para o Monte Pedral. Ao todo, será feito um investimento de aproximadamente 44 milhões de euros, numa obra que vai para lá da construção de cinco edifícios de habitação - o que está em cima da mesa é uma proposta de regeneração urbanística.

Este empreendimento será levado a cabo numa zona onde muitos dos que lá vivem “vieram de outros sítios” e sentem-se distantes do resto da cidade, afirma Rui Moreira ao PÚBLICO. O presidente da câmara do Porto acredita que diversos outros factores, e o facto de nalguns dos bairros sociais da área viverem pessoas com origem em vários pontos da cidade, contribuíram para que as mesmas se sentissem distantes do resto da cidade. A transferência destas pessoas para uma zona, que é uma espécie de enclave entre a Foz e o centro do Porto, terá tornado difícil criar uma ponte mais directa com o resto da cidade.

Moreira compara os residentes das habitações sociais daquela área aos moradores do antigo bairro do Aleixo, para onde foram pessoas com origem na Ribeira, que mais tarde, antes da sua demolição, voltaram a ser transferidas para outros bairros. “São transumantes”, afirma, aludindo ao facto de já por mais do que uma vez terem sido obrigados a deixar para trás o sítio onde iam construindo raízes. 

Acabar com “ghettos”

“E desta transumância nós temos de fazer cidade. E a única maneira de o fazer é meter-lhes a cidade dentro”, sublinha o autarca, que vê nesta obra uma possibilidade para aproximar esta zona do resto do território, um pouco como diz estar a ser feito em Campanhã. O objectivo final é acabar com “ghettos”.

Dado este passo, em vias da adjudicação, a autarquia já pensa noutra obra para a mesma zona. Prestes a avançar para fase de estudo está a ideia de unificar o Parque Urbano da Pasteleira. Nesta fase preliminar, estuda-se a possibilidade de eliminar a Rua Afonso de Paiva, que separa o parque em duas metades. A solução urbana que se está a estudar passa pela eliminação desse arruamento, criando um eixo de penetração desde a marginal fluvial até às imediações de Serralves. 

“Temos de ter espaço público muito bem tratado”, afirma Moreira, que acredita que a aposta numa reformulação paisagística será mais uma forma de garantir a criação de um espírito de pertença entre os residentes daquele território em sintonia com o resto da cidade. Mas para isso é fundamental dar esse primeiro passo: “A cidade tem de lá chegar”.

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