Em dez anos, a decisão será das “máquinas”. Do teletrabalho aos dados que partilhamos

Em 2030, o mundo vai estar ainda mais conectado com máquinas e sistemas inteligentes a decidir como andamos, com quem falamos e o que partilhamos. É o que mostra o relatório de tendências de Dezembro dos laboratórios Ericsson.

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EPA/ALBERTO ESTEVEZ

Como será a próxima década? Depois de 2020, os consumidores e profissionais de tecnologia acreditam que a rede de aparelhos interconectados será mais densa e que vão existir máquinas, programas de computador e robôs a ajudar nas decisões do dia-a-dia, sejam sugestões para melhorar a forma como as pessoas se sentam e o que comem até aos dados que partilham online. Parte dessa realidade é uma consequência das exigências do teletrabalho e das novas redes 5G que, no futuro, devem permitir que ainda mais dispositivos troquem informação em simultâneo. 

A conclusão é do relatório de final de ano dos laboratórios Ericsson, com base na análise de inquéritos online enviados em Outubro a residentes de 15 grandes cidades, como Londres, Nova Iorque, Xangai, Sydney e São Paulo, que têm entre 15 e os 69 anos e procuram usar assistentes digitais (como a Alexa, a Siri ou o Google Assistant) e programas de realidade virtual e aumentada no dia-a-dia. 

“Acreditamos que o perfil destes fãs de novas tecnologias torna-os importantes quando se quer explorar as expectativas que as pessoas têm para a próxima década”, resume a equipa da Ericsson. 

As principais tendências incluem robôs para ajudar a melhorar a postura, programas para gerir a quantidade de dados partilhados, controladores de teletrabalho e sistemas para seleccionar a melhor rede de amigos para a saúde física e mental. Muitas empresas já estão a investir na área.

Guardiões da privacidade

Um dos problemas de 2020 é a enorme quantidade de dados pessoais que são partilhados online (por vezes, acidentalmente) e que depois são usados para recomendar notícias, produtos e grupos. Os consumidores inquiridos pela Ericsson acreditam que as pessoas vão continuar a partilhar muito em 2030, mas três quartos sugeriram a criação de “guardiões da privacidade” (aparelhos ou programas de computador) para organizar dispositivos pessoais, reduzir as pegadas digitais e bloquear a “bisbilhotice electrónica”. 

Em 2020, já há algumas opções: a Jumbo, por exemplo, é uma aplicação móvel (iOS e Android) que gere automaticamente as definições de privacidade de todas as redes sociais que alguém usa e alerta para tentativas de roubo e violações de dados pessoais. Funciona com plataformas como o Twitter, Facebook e Amazon. 

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Há uma versão grátis e outra por subscrição jumbo

Monitorização do teletrabalho

Uma das tendências que surgiu especificamente na pandemia é a procura por formas de monitorizar o teletrabalho, com muitas pessoas a sentir que trabalham mais horas do que deviam. Cerca de 80% dos inquiridos esperam que na próxima década sejam criados rastreadores para contar as horas de trabalho produtivo e a electricidade que se gasta a trabalhar de casa. Contrariamente a algum dos sistemas actuais, estariam ligados a todas as máquinas e aparelhos em casa (do computador à máquina de café). Apenas 15% temem que este tipo de serviços tenha consequências negativas.

Robôs para aprender a andar

Os inquiridos acreditam que máquinas conectadas que ajudem as pessoas a melhorar o corpo e a mente serão uma tendência maior. Haverão, por exemplo, mais robôs e programas para prevenir dores de costas: 76% dos inquiridos pela Ericsson acreditam que existirão fatos inteligentes para garantir que as pessoas mantêm uma posição correcta ao longo do dia. Em 2020, já há algumas empresas a investir na área. A tecnológica chinesa Xiaomi, por exemplo, apresentou o Hipee que é uma espécie de colar para prevenir más posturas. Sempre que alguém se senta com as costas encurvadas, o aparelho envia um alerta para o telemóvel e vibra ligeiramente para que o utilizador perceba. Para já, a empresa está a avaliar o interesse do produto através de uma campanha de financiamento colectivo, mas o preço deve rondar 99 yuans (cerca de 13 euros). 

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O colar vibra para alertar o utilizador que se tem de endireitar Hipee

Câmaras partilhadas 

Oito em dez dos inquiridos acreditam que o número de fechaduras inteligentes e câmaras de vigilância vai aumentar e que estes aparelhos vão aprender a trabalhar em conjunto. Ou seja, se a câmara de vigilância do vizinho detectar algo suspeito será capaz de alertar, automaticamente, o sistema da casa ao lado ou o sistema da comunidade. Da mesma forma, existirão aparadores de relva e regadores automáticos capazes de trabalhar em conjunto para manter uma zona limpa. 

A Worten e a Fnac já oferecem alguns cadeados inteligentes. Os cadeados inteligentes da IglooHome guardam as chaves suplentes da casa de alguém e, para os abrir, é preciso inserir um código temporário (gerado automaticamente e enviado por telemóvel pelo dono da casa). Se alguém errar várias vezes seguidas, é activado um alarme e o dono da casa é avisado. 

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O sistema avisa o utilizador se alguém estiver a tentar abrir o cadeado sem sucesso DR

Seleccionador de amigos 

Muitos acreditam que as máquinas e apps se estão a tornar melhores conselheiras. Cerca de sete em cada dez acreditam que na próxima década serão as próprias redes sociais a definir o melhor círculo de amigos que cada pessoa deve ter para promover o seu bem-estar físico e mental. Com isto, 30% dos inquiridos admitem ter medo de um mundo onde não sobram tarefas importantes e significativas para o humano. E o mesmo número acredita que desligar o assistente inteligente se vá tornar numa forma de mostrar independência. 

Robôs artistas

A inteligência artificial e os robôs devem participar mais na criação de conteúdo mediático como romances, videojogos e séries. Mais de 60% dos consumidores comprariam uma consola que criasse jogos personalizados com base no comportamento do utilizador noutros jogos. Os algoritmos do grupo OpenAI, fundado por Elon Musk em 2015, já permitem continuar histórias a partir de excertos introduzidos pelo utilizador. 

“A princesa foi atacada por um monstro mágico que a obrigava a dançar cada vez que via alguém”, por exemplo, é a sugestão do OpenAI  para continuar a frase “Era uma vez, uma princesa que vivia num castelo...” Alguns parágrafos mais tarde, a princesa “aborrecida, decidiu treinar para se tornar numa pirata”.

Painéis solares em miniatura

Com a crise climática, as pessoas acreditam que a tecnologia vai ter de desempenhar novos papéis. Dos inquiridos, 83% acreditam que carregadores automáticos que funcionam com energia solar se vão tornar mais comuns. Algumas das hipóteses já no mercado incluem o Solar Paper da Yolk Electronics que promete carregar qualquer aparelho com um cabo USB  desde smartphones a baterias externas, câmaras e até tablets

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Há anos que há empresas a tentar criar painéis solares portáteis YOLK ELECTRONICS

Tradutores de tecnologia

Existe uma procura por tecnologia que se explique, em vez de remeter para o manual de instruções. No relatório da Ericsson, 86% dos inquiridos contam que até 2030 os smartphones sejam capazes de explicar os dados que são recolhidos por cada aplicação móvel de forma mais clara. 

Hackers robóticos

O relatório da Ericsson inclui previsões sobre crimes facilitados através da tecnologia. Perto de um quarto dos inquiridos admitem que considerariam utilizar um dispositivo com inteligência artificial para aceder a smartphones alheios e arrombar fechaduras inteligentes. Três quartos dos inquiridos acreditam que sistemas de phishing (uma técnica em que os atacantes tentam convencer o utilizador a fornecer dados confidenciais por engano) se vão tornar mais sofisticados ao analisar as mensagens e fotografias que as pessoas partilham online. 

Mapas de WiFi

Em 2020, a qualidade da Internet tornou-se particularmente evidente. Localizadores e mapas de WiFi para guiar as pessoas para locais com boa conectividade são uma das previsões de 83% dos inquiridos pela Ericsson. 

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