TVI reage a críticas à contratação milionária de Cristina: ainda não recebeu um euro dos 600 mil de publicidade do Estado que já emitiu

Media Capital lembra que não se trata de subsídios mas de “apoio” que na verdade se tem “revelado um constrangimento à tesouraria”.

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Miguel Manso

Depois de dois dias sob críticas pela contratação de Cristina Ferreira, que irá ganhar cerca de três milhões de euros anuais ao mesmo tempo que a Media Capital irá receber do pacote estatal de apoio à comunicação social perto do mesmo valor, a dona da TVI veio esta segunda-feira à noite afirmar que não se trata de subsídio e que “o que seria um apoio à tesouraria tem-se revelado “um constrangimento à tesouraria”. E ainda não recebeu nada dos 600 mil euros em publicidade institucional que já emitiu.

Num esclarecimento sobre “alegados subsídios do Estado à comunicação social”, o grupo vinca que nunca existiu nenhuma medida do Governo “que se traduzisse em subsidiar” os media tratando-se antes de uma “alocação de verbas para aquisição antecipada de espaço para difusão de publicidade institucional” devido à crise económica que também afectou o sector na sequência da pandemia de covid-19. Dos 15 milhões de euros que compõem o pacote de ajuda estatal, o grupo Media Capital receberá 3,342 milhões de euros, o que corresponde a 2,7 milhões de euros líquidos (depois de pago o IVA ao Estado).

“Foi sempre um mero adiantamento de fundos para pagamento de serviços a virem a ser prestados e nunca um qualquer subsídio à actividade ou um financiamento a fundo perdido ou sem contrapartida certa”, argumenta a dona da TVI. “Acontece que, até à presente data, ainda a Media Capital não recebeu qualquer montante”, garante a empresa. “Antes, tem prestado os serviços que os diversos organismos do Estado lhe encomendam, num valor que ascende actualmente a cerca de 600 mil euros e que vai aumentando à medida de novas encomendas que são dirigidas à Media Capital; tudo sem que tenha ainda existido qualquer contrapartida financeira”, insiste.

Daí que venha a crítica: “O que seria um apoio à tesouraria da empresa tem-se revelado como um constrangimento à tesouraria, dado que é a Media Capital que está a avançar com a prestação dos serviços sem o correspondente recebimento.” O grupo que detém a TVI mas também diversas rádios como a Comercial, M80 e Cidade diz assistir “com perplexidade e apreensão (…) a notícias e insinuações que parecem querer contar uma versão fantasista de uma realidade que não existe, colocando um ónus de imagem e reputação nos órgãos de comunicação social que é imerecido, porque não verdadeiro”.

No sábado, diversas figuras do PSD vieram a público deixar farpas à TVI, nomeadamente Rui Rio, David Justino e Miguel Poiares Maduro. Crítico recorrente do programa de apoio de 15 milhões de euros, o presidente do PSD pegou no caso Cristina Ferreira (de cujo programa na SIC chegou a ser convidado) para voltar à carga. “Percebe-se agora o apoio de 15 milhões de euros do Governo a este sector; realmente as despesas são muitas e a crise é grande. Aguardemos agora notícias sobre o apoio público socialista à dispendiosa contratação do novo treinador do Benfica”, escreveu na rede social Twitter.

Foi na mesma rede que o vice-presidente social-democrata David Justino foi mais directo: “Face aos 15 milhões de ajuda do Governo às empresas de comunicação social, o regresso de Cristina Ferreira à TVI é um negócio pornográfico.”

Já o antigo ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional Miguel Poiares Maduro, que entre 2013 e 2015 teve a pasta da comunicação social no Governo de Pedro Passos Coelho, escreveu na sua página no Facebook: “As empresas privadas devem ser livres de pagarem aos seus funcionários e gestores o que quiserem. (…) Mas é diferente quando pedem apoio financeiro ao Estado.” Lembrando que os bancos que receberam auxílio do Estado durante a troika ficaram sujeitos a tectos salariais, acrescentou que agora “ninguém parece incomodado com contratações milionárias por empresas de media que ainda há pouco reclamavam auxílios públicos”. E rematava: “Há sempre um juízo diferente quando estão em causa estrelas populares, mas não devia!”

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