TAP: Bloco pede auditoria, PCP diz que privados estão a mais, direita quer Estado fora da empresa depressa

À esquerda e à direita, as reacções ao negócio da TAP são as expectáveis e ideologicamente distintas.

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TAP ainda não está a funcionar a 100% LUSA/MÁRIO CRUZ

O Bloco de Esquerda foi o primeiro partido a reagir, nesta sexta-feira de manhã, ao anúncio ontem feito pelo Governo de que o Estado vai passar a controlar a TAP, mediante o pagamento de 55 milhões de euros. Isabel Pires, deputada do partido, disse que a solução fica “aquém” do defendido pelo Bloco de Esquerda e pediu uma auditoria. De seguida, Bruno Dias, do PCP, pediu o controlo público efectivo da companhia e disse que “os interesses privados estão a mais na TAP”. O CDS quer ver o Estado fora da empresa, depressa.

“A privatização foi um erro tremendo e o processo de renacionalização também foi bastante prejudicial para o interesse público”, começou por dizer Isabel Pires. “Mas neste momento, e relativamente ao que foi anunciado, ficam dúvidas essenciais de esclarecer” sobre a “orientação estratégica” para a empresa e o “modelo de gestão” que será escolhido.

“Em primeiro lugar, é preciso que tenhamos uma orientação estratégica para a TAP. A empresa representa 2% PIB, tem quase 10 mil trabalhadores directos e milhares de indirectos e tem um peso significativo nas exportações. É e sempre foi uma empresa estratégica. Por isso é que é importante salvar a empresa, mas não a todo o custo. É preciso conhecer o plano estratégico, salvaguardando os postos de trabalho”, explicou a deputada bloquista. Este plano deve garantir que “a empresa se mantém como pilar para a coesão territorial, assegurar os postos de trabalho, tem de ter objectivos ambientais e tem de ter objectivos bem definidos do ponto de vista da exportação e da ligação às comunidades portuguesas”, disse ainda.

Isabel Pires referiu-se depois à segunda dúvida levantada pelo partido: o plano de gestão. “É preciso esclarecer qual o modelo de gestão que vai ser escolhido para a TAP.” Para o Bloco de Esquerda, o controlo público com gestão pública é o que salvaguarda o futuro da companhia.

Foi apenas nas notas finais que a bloquista referiu a necessidade de uma auditoria à gestão privada, algo que estava previsto no diploma do partido que pedia a nacionalização da companhia. “É importante avançar com uma medida deste género para que o país saiba o que aconteceu na gestão privada”, afirmou, rejeitando uma comissão de inquérito. “Uma auditoria assegurava que pudesse haver esse escrutínio relativamente à gestão privada da TAP e isso é que garante que o Estado possa ser ressarcido.”

Interesses privados a mais

Minutos depois, também na Assembleia da República, onde decorria um debate proposto pelo PAN sobre Teletrabalho, o deputado Bruno Dias, do PCP, assumia a “defesa da TAP enquanto companhia aérea de bandeira” e insistia na necessidade de “colocar a TAP ao serviço da soberania nacional”.

Os interesses privados estão a mais na TAP. É preciso alinhamento com interesse nacional”, defendeu Bruno dias, lembrando que o PCP apresentou um projecto em que defendia a nacionalização da companhia, com o seu controlo efectivo - uma solução diferente da que foi seguida pelo Governo. 

“É preciso não colocar a TAP como apêndice de outra companhia”, pediu o comunista, referindo-se à prioridade que é a defesa do interesse dos trabalhadores e à necessidade de “apurar as opções que foram assumidas e as suas responsabilidades e consequências”. O PCP entende que o Estado deve “poder assumir efectivamente o controlo e os destinos da companhia”, tanto ao nível da gestão como do capital.

À semelhança do que disse o PCP, também o Partido Ecologista Os Verdes defendeu que os privados “não devem fazer parte da equação e da solução”.

Estado fora da TAP

Da parte do CDS-PP, João Gonçalves Pereira considerou positivo o facto de a solução ter sido obtida “por acordo” e não por nacionalização, mas exigiu mais elementos sobre esse acordo.

O deputado centrista acredita que o Governo dará à Assembleia da República mais pormenores sobre o que foi acordado na quinta-feira, o plano estratégico para a empresa, e alertou para algumas dúvidas ou incógnitas, como a “posição da Comissão Europeia sobre o processo”.

Lembrando que foi um Governo PSD/CDS a privatizar a TAP, o centrista afirmou: “Assim que possível, assim que houver condições, o Estado deve sair da empresa.”

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