Dia das Mulheres usado para lançar “Primavera feminista” na América Latina

Manifestações em vários países, do México à Argentina, exigiram medidas de combate ao feminicídio e a legalização do aborto. No Chile, os protestos contra as desigualdades sociais e económicas serviram de pano de fundo ao Dia Internacional das Mulheres.

No Chile, a maior manifestação teve lugar na capital, Santiago
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No Chile, a maior manifestação teve lugar na capital, Santiago Reuters/STRINGER
Na Argentina a principal reivindicação foi a legalização do aborto
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Na Argentina a principal reivindicação foi a legalização do aborto Reuters/MARIANA GREIF
O México registou um aumento de 137% de feminicídios nos últimos cinco anos
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O México registou um aumento de 137% de feminicídios nos últimos cinco anos Reuters/LUISA GONZALEZ

As mulheres do grupo feminista chileno 8 de Março cantaram e dançaram em frente ao palácio do Presidente do Chile, este domingo, para enviarem uma mensagem que ecoou por toda a América Latina nas comemorações do Dia Internacional das Mulheres: “O patriarcado é um juiz que nos julga por nascermos, e o nosso castigo é a violência que tu não vês. O violador és tu.”

A letra da canção “Um violador no teu caminho” nasceu no Chile, em Novembro do ano passado, e foi adoptada como hino no México, na Argentina, na Colômbia e em muitos outros países num continente onde os números da violência de género são cada vez mais dramáticos – em 2016, 14 dos 25 países do mundo com as mais altas taxas de feminicídio eram da América Latina, de acordo com o relatório “Uma Análise de Género das Mortes Violentas”.

“Este sítio é emblemático, e a letra da canção fala sobre o que se passa lá dentro”, disse à agência Reuters Maria Victoria, uma das centenas de milhares de mulheres que se manifestaram em Santiago do Chile, este domingo, enquanto apontava e gritava na direcção do palácio La Moneda: “Piñera assassino!”

Sebastián Piñera, regressado ao cargo de Presidente do Chile há dois anos, depois de um primeiro mandato no início da década, é um dos maiores alvos da onda de protestos contra as desigualdades económicas e sociais que tem marcado o país desde Outubro, e que no seu auge chegou a levar para as ruas mais de um milhão de pessoas.

E foi também o alvo das manifestações deste domingo no Chile, por força das suas posições contra o aborto e por causa de uma declaração polémica que proferiu na passada terça-feira, quando assinou uma nova lei de combate ao feminicídio: “Em alguns casos, a questão não é só que os homens querem cometer abusos, mas também que as mulheres se põem numa situação que permite que sejam abusadas.”

Mais a norte, no México, as comemorações do Dia Internacional das Mulheres ficaram marcadas pela exigência de que as autoridades façam mais para combater a violência de género, perante um aumento de 137% dos feminicídios nos últimos cinco anos.

“Estou a manifestar-me por cada uma das mulheres deste país. Pelas que morreram e pelas que estão vivas, pelas vítimas de violência”, disse Carmen Rojas, de 52 anos, à agência Reuters. “Temos de nos fazer ouvir.”

Segundo os números do Governo mexicano, 411 mulheres foram mortas em 2015 no país em crimes com base no género; em 2019, foram mortas 976 mulheres.

Ao lado do Chile, na Argentina, onde o novo Governo de esquerda se prepara para criar um Ministério da Mulher e para promover a legalização do aborto, os números do feminicídio também subiram nos últimos tempos. Só nos primeiros dois meses do ano foram mortas 63 mulheres – uma a cada 23 horas.

Para além das manifestações no Dia Internacional das Mulheres, milhares de argentinas e mexicanas vão continuar os protestos na segunda-feira com greves ao trabalho e paragens ao longo do dia.

“Esta é a nossa primavera feminista aqui em Tijuana”, disse ao jornal britânico Guardian Carolina Barrales, uma das fundadoras da associação mexicana Círculo Violeta. “E não vamos parar até que se faça justiça. Isto é só o começo.”

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