Funcionários da Boeing conheciam falhas do 737-MAX: “Desenhado por palhaços”

“Este avião é desenhado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos”, lê-se numa mensagem de um funcionário, sobre o avião envolvido em acidentes que causaram a morte a mais de 300 pessoas.

Foto
Reuters/Lindsey Wasson

“Ainda não fui perdoado por Deus pelo que escondi no ano passado”, escreveu um funcionário da Boeing, numa mensagem datada de 2018. “Este avião é desenhado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos”, lê-se noutra mensagem, numa aparente referência à Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla inglesa). Estas são apenas duas das centenas de mensagens de texto que a Boeing disponibilizou ao Congresso dos Estados Unidos, em que os seus funcionários descredibilizam o processo de certificação do modelo 737 MAX e denigrem o regulador de aviação norte-americano.

Nas mensagens, consultadas pela agência France-Presse (AFP), os pilotos dão conta de falhas nos simuladores do modelo 737 MAX , envolvido em dois trágicos acidentes: o primeiro aconteceu em Outubro de 2018, na Indonésia, quando um avião com 189 pessoas a bordo se despenhou no Mar de Java, poucos minutos depois de ter levantado voo; menos de seis meses depois, outro aparelho despenhou-se apenas seis minutos depois de ter partido de Addis-Abeba, na Etiópia, sem sobreviventes.

Noutra mensagem, um funcionário admite a um colega que não deixaria a família voar numa aeronave 737 Max. Noutra mais antiga, um funcionário admite que seria necessário fazer pressão “ao mais alto nível” para evitar que o regulador obrigasse os pilotos a fazer treino em simuladores de voo.

Estas mensagens foram disponibilizadas por congressistas norte-americanos que estão a investigar o processo de certificação do 737 MAX.

“Algumas destas comunicações dizem respeito ao desenvolvimento e qualificação dos simuladores Boeing 737 MAX, em 2017 e 2018”, esclareceu a Boeing, acrescentando que forneceu as mensagens em nome da “transparência”. “Estas comunicações não reflectem a empresa que somos e que precisamos de ser, e são completamente inaceitáveis”, admitiu a Boeing em comunicado.

No final de Dezembro, o presidente-executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, foi afastado do cargo devido a tensões com a reguladora, tendo sido substituído por David Calhoun. A Boeing suspendeu entretanto a produção do 737, pela primeira vez em vinte anos.

Sugerir correcção
Ler 28 comentários